1. Num texto recente Paul Krugman abordava o fenómeno Trump dando-o como o melhor exemplo de existir sempre a possibilidade de se vir a viver um pesadelo causado pelo que se imaginou da realidade e não pelo que ela nos transmite nos seus sinais. Porque a América e o mundo do candidato republicano é sinónimo de caos e crime, as populações brancas endinheiradas - que não constatam essa realidade, mas a temem! -, estão dispostas a permitir que o seu alucinado líder as convença das suas razões.
E, no entanto, todos os indicadores desmentem Trump: as cidades nunca foram tão seguras nas últimas décadas quanto o são atualmente. Mas que dizer de um contumaz mentiroso capaz de, sem despudor, dar a América como um dos países onde os impostos são mais elevados entre os países desenvolvidos, quando a realidade é exatamente a contrária!
2. Vale a pena regressar ao artigo de opinião assinado por José Vítor Malheiros na edição do «Público» de ontem por abordar, com a sua habitual sensatez, o que se passou com o escândalo das viagens a França propiciadas pela Galp-
Ao contrário do que defendi e continuo a defender, ele aconselha a demissão de Rocha Andrade por não ter sido lesto a chegar-se à frente, sem desculpas nem falinhas mansas, e declarar: “Foi um erro. Não se repetirá.”
A verdade é que existe uma exigência de comportamentos éticos para com este governo, que não existia para o anterior. Como diz o autor “não estamos a falar do Portas dos submarinos nem do Passos Coelho da Tecnoforma, de quem se esperava apenas que não escarrassem na mesa para manter as aparências, na impossibilidade de uma conduta eticamente exemplar. Hoje é-nos permitido esperar bastante mais. E é esperado dos governantes que respondam a essa exigência superior.”
JVM arruma a um canto a prosápia da líder do CDS na sua versão de virgem púdica: “Que Assunção Cristas, esquecendo os seus anos como majorette de Paulo Portas, pretenda armar-se em consciência da República, compreende-se (o CDS precisa de inventar alguma coisa para dizer), mas é ridículo. E é ridículo porque uma pose moralista como a que Cristas se arroga, apostando na amnésia geral, não pode ser adotada por quem quer, mas apenas por quem é reconhecido como possuindo estatuto moral para o fazer.”
Muito menos se exigirá dos deputados do PSD. Para eles JVM só tem um requisito: “Basta-me que não escarrem na mesa. Não seria lícito esperar mais deles.”
3. Enquanto os Jogos Olímpicos prosseguem os enadores brasileiros mantiveram a lógica golpista de garantir que Dilma Rousseff fica afastada do Palácio do Planalto.
No entanto, e tal como se viu na cerimónia de abertura do evento desportivo, o poder está longe de se sentir consolidado por parte dos que conspiraram para afastar o PT da governação. E, quando a festa desportiva acabar, ir-se-ão afiar as facas, porque a situação social tende a agravar-se e a diabolização da antiga presidente já não servirá de cimento a quem, anteriormente, conjugava meios e apoiantes para dar cobertura à transformação política então gizada.
É por isso que Dilma conseguirá uma vitória a prazo impondo novas eleições. E a esquerda terá a oportunidade para se reorganizar de forma a não permitir que, da sua divisão, saiam vitoriosos os interesses dos privilegiados do costume.
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