Teria preferido que Rocha Andrade e os outros secretários de Estado não aceitassem os convites da Galp para assistirem a jogos de futebol durante o recente Europeu. A notícia só me espantou pela leviandade com que embarcaram nessa onda sem pensarem nas consequências da impensada decisão.
É que o país ainda tem uma cultura de troca de favores entre quem tem poder e quem o pretenda canalizar em seu favor para que se encare com ligeireza tais práticas. É aceite como “normal” que haja quem receba prendas e quem as dê: assim sucede com os médicos e as farmacêuticas, com os gestores das empresas privadas ou públicas e os seus fornecedores de serviços ou de materiais, ou com os jornalistas e as empresas de que se sentem marionetas (vide o último «Negócios da Semana» em que, não tendo controlado o que um convidado ia dizer a propósito do Deutsche Bank se viu um aflito José Gomes Ferreira a prometer ouvir a entidade bancária no dia seguinte!).
O que qualquer membro da equipa de António Costa deve ter presente a todo o momento é que a incapacidade da direita em criticar o governo - que lhe tem retirado fundamentação em tudo quanto ela pudesse querer pegar - a leva a este coro de críticas obviamente empolado pela SIC, pela TVI, e até pela RTP, como se nela só existissem virgens virtuosas incapazes de pecar por atos e, até, por omissões.
Provavelmente se fosse próprio da esquerda ser tão crapulosa quanto a direita o revela ser, não seriam difíceis de encontrar pedras para estilhaçarem os seus telhados de vidro a respeito de todos os favores recebidos nos quatro anos em que nos infernizou.
Mas os cuidados constantes com práticas, que Augusto Santos Silva prometeu inserir num Código de Ética a respeitar, não impedem a forte probabilidade de, amanhã, continuando a ver bem sucedida a estratégia da «Geringonça», a direita chegue ao cúmulo de criticar um qualquer secretário de Estado por não ter ajudado uma ceguinha a atravessar uma rua movimentada ou por ter saído um impropério da boca de um ministro incautamente pisado por algum colega à entrada para os Passos Perdidos.
No fundo quem pertence ao governo tem de seguir a regra romana de, mais do que ser sério, cada um dos seus membros tem de parece-lo.
Ao contrário de alguns camaradas socialistas, que se juntaram ao coro a pedir a cabeça dos visados ou vieram para as redes sociais autoelogiarem-se de terem estado também em Lyon e terem pago para tal, considero que o melhor que têm a fazer é levar todo este assunto à conta de se tratar da «silly season» e esperarem-se dela as notícias e opiniões mais idiotas.
Na realidade o caso até pode ter sido positivo no sentido de alertar todos os governantes para a necessidade de cumprirem os valores da ética republicana, exigindo para si a probidade, que a todos caberá assumir.
Quanto ao mais, erros todos cometem e venha lá o primeiro que diga nunca os ter cometido. Na verdade a política é algo de demasiado sério para que seja entregue a quem só está interessado na chicana com que julga propiciar o sucesso dos seus ínvios objetivos.
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