quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A resposta nunca está no “vale tudo”

1. Na sua conferência de imprensa no Funchal, António Costa voltou a dar uma soberba lição aos “jornalistas”, que só anseiam por ver a intriga facultar-lhes títulos de abertura nos telejornais. Questionado sobre se considerava tardio o pedido de apoio do Governo Regional ao da República, o primeiro-ministro escusou-se a dar a resposta pretendida por quem a formulou e valorizou, sobretudo, o esforço conjugado de todos quantos lutam contra os incêndios desde as autoridades nacionais aos bombeiros, que enfrentam a primeira linha de fogo.
Muito embora as redes sociais andem a pretender a diabolização do governo regional não deixa de ser obscena esta tentativa de aproveitamento político enquanto as cinzas ainda estão fumegantes e o cenário de catástrofe assume tal dimensão.  Por muito que Miguel Albuquerque não me mereça qualquer simpatia, dá-lo como culpado de um sinistro de tal dimensão nada adianta. E se tanto nos indignamos com a falta de escrúpulos da direita na invocação dos mais sórdidos argumentos para inculpar a esquerda, tudo devemos fazer para não a imitar. E foi isso que António Costa, de forma muito elegante, o demonstrou esta tarde.

2. “Ou é incapaz ou não tem vontade de separar a verdade da mentira. Não encoraja pontos de vista opostos. Falta-lhe autocontrolo e age de forma impetuosa. Não tolera a crítica pessoal. Alarmou os nossos aliados mais próximos com o seu comportamento errático. Tudo características perigosas num indivíduo que pretende ser Presidente e comandante supremo, com controlo do arsenal nuclear dos EUA.”
A opinião sobre Donald Trump, emitida por antigos responsáveis de topo das administrações republicanas desde Nixon até George W. Bush, é tão significativa, que soa a mais uma badalada no sino que dá o toque de finados à sua candidatura à Casa Branca.
É verdade que Hillary está longe de entusiasmar o eleitorado democrata, nomeadamente o que melhor se identificava com as propostas de Bernie Sanders mas, entendida como mal menor, vai-se-lhe estendendo a passadeira vermelha para substituir Barack Obama.
Só faltará ver até que ponto a escolha de Trump implicará uma quebra de votos bastante para que os republicanos percam as atuais maiorias no Senado e no Congresso. Porque tratar-se-ia de uma oportunidade única para impor uma agenda mais progressista na política norte-americana por muito que a nova presidente com ela não se identifique.

3. Do meu longínquo passado maoísta guardo uma curiosidade incessante por tudo quanto tem a ver com a China, porque se as transformações de países relativamente pequenos pouco nos afetam, no caso de gigantes da sua dimensão, temos de nos precaver com as ondas de choque que os seus violentos sismos políticos e sociais implicam. Por isso mesmo a atual fase de desindustrialização, que atira para o desemprego milhões de operários e, sobretudo, de mineiros da sua poluente extração de carvão, tem tudo para suscitar problemas desafiantes para a sua liderança governativa.
É que quase todos esses desvalidos têm escassas competências e instrução para se adaptarem a uma evolução demasiado rápida para que a possam sequer acompanhar. O que não deixa de ser singular num país onde a sua Revolução deveria encontrar resposta adequada para melhorar a qualidade de vida dos que agora nem sequer possuem soluções de mera sobrevivência.


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