Neste regresso às aulas está a acontecer um fenómeno natural, mas também revelador das dificuldades que a esquerda terá em alterar os comportamentos instituídos por anos de hábitos há muito instalados. Refiro-me, é claro, à questão dos manuais escolares.
Esta é a primeira vez que esses livros serão gratuitos para todos os alunos do ensino básico, tão-só os Encarregados de Educação se comprometam a devolvê-los no fim do ano letivo para virem a ser reutilizados no seguinte. É que se tenta colocar, igualmente, em prática a legislação destinada a garantir que o tempo de vida útil de cada manual seja de seis anos, pondo fim às habilidades das editoras para, fazendo mudanças de pormenor, impossibilitarem que, por exemplo, sejam reutilizados posteriormente por familiares ou amigos.
Vendo o enorme negócio, em que são monopolistas, a ser posto em causa, a Porto Editora e a Leya iniciaram uma campanha mediática destinada a contestar estas novas medidas, considerando que os próprios Encarregados de Educação têm preferido comprar os livros para os filhos do que utilizarem os que lhes possam ser dados. E, neste aspeto, não será propriamente uma coincidência que Marques Mendes já tenha anunciado como remodelável o ministro da Educação que, nas sondagens, até é dos que colhe maior favor popular.
Nesta guerra - que não tardará a ser acolitada pela peste amarela de meses atrás - o que essas empresas e a direita em geral quererão evitar é a mudança de cultura, invocando argumentos falaciosos como o da “liberdade de escolha” ou o da utilização plena dos livros feitos para serem riscados, sublinhados, amarfanhados, manchados, etc.
Nalguns casos colherão apoio, mas a tendência será a de virmos a imitar os suíços que, por nem sequer considerarem a necessidade de se fazerem trabalhos de casa, mantém os manuais nas escolas para serem escrupulosamente utlizados em salas de aula. E não consta que a economia suíça passe pelas dificuldades ainda constatáveis na portuguesa.
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