segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Dois crápulas

Numa altura em que os nossos media vão cumprindo as encomendas do Pentágono ou da CIA diabolizando Bashar al-Assad ou Nicolas Maduro, e poupando os Erdogans, os Orbans ou a clique da família Saud, foram notícia dois crápulas, que fazem a unanimidade de quase todos quantos habitam este planeta.
Ahamad al-Faqui a-Mahdi começou a ser julgado no Tribunal Penal Internacional em Haia por ter sido o responsável pela destruição de inúmeros monumentos em Tombuctu, quando o seu grupo jihadista tomou de assalto a cidade em 2012.
Contra ele não deveriam só ser considerados os crimes decorrentes dos monumentos ou dos documentos históricos destruídos, porque, enquanto chefe da polícia dos costumes teve um prazer sádico em fazer cumprir a sharia, mandando lapidar os acusados de adultério ou cortar as mãos aos supostos ladrões.
Num país como o Mali, onde a paixão pela música  é identitária, os que a ouviam ou tocavam não escaparam ás chicotadas por ele decididas.
Agora, fingindo um arrependimento em que ninguém acredita, surgiu em tribunal a reconhecer-se culpado. Como poderia ser de outra forma se as provas para o condenarem são irrefutáveis?
Até certo ponto pode-se questionar por que lhe são dadas garantias de defesa, que  sempre negou às suas vítimas enquanto se sentiu imbuído de um poder absoluto.
Também essa sensação de impunidade é a que se está a colar a Rodrigo Duterte, uma espécie de Trump, que conseguiu ser eleito presidente das Filipinas graças ao seu asqueroso discurso populista e, desde então, tem proporcionado aos polícias a autorização para fuzilarem sumariamente quem suspeitem de envolvimento no negócio da droga.
Nós sabemos bem o que esse tipo de «liberdade de ação» significa: à pala de uns quantos dealers, safam-se sempre os verdadeiros donos desse tipo de tráfico, e limpam-se as ruas de quem nada tem a ver com o assunto, mas desagrada por esta ou aquela razão a quem se sente no direito de disparar primeiro e perguntar depois.
Claro que a ONU aconselhou o ditador (“democraticamente eleito”) de Manila a ter mais contenção no gatilho, mas só exasperou a besta raivosa, que ameaçou retirar-se da organização.
Talvez fosse bom que isso sucedesse, porque existem governos, que bem merecem ser ostracizados como párias e sujeitos às mais rigorosas sanções. Mas, nesse capítulo, a comunidade internacional dispara sempre ao lado, punindo quem não deve e deixando incólumes quem mereceria ser definitivamente banido do convívio com as demais nações civilizadas. 

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