1. Nos últimos dias liga-se a televisão para os canais dedicados a notícias e é sempre o mesmo: fogos, fogos e mais fogos.
Costuma ser um clássico do verão, mas este ano, perante a ausência de outros conteúdos noticiosos relevantes - poucos ligam aos Jogos Olímpicos, o arranque da época de futebol ainda se revela lento e mais nenhum secretário de Estado viajou às custas da Galp! - as direções editorais usam e abusam do tema.
Ora, sabendo-se o quanto os incendiários obedecem muitas vezes ao efeito mimético de reproduzirem o que veem ocorrer noutros lados, pode-se considerar que as televisões andam especializadas em suscitar ímpetos pirómanos. E ninguém parece interessado em de tal as acusar...
2. O contrato de Paulo Portas com a petrolífera mexicana veio revelar uma evidência: nunca até aqui um governante estabelecera uma estratégia tão ampla de organizar uma agenda pessoal de deslocações e de angariação de conhecimentos, que pudesse vir a utilizar, quando passasse à oposição. Comparado com Portas, Miguel relvas passará por ter sido um «menino»...
Inegavelmente inteligente e sem ponta de escrúpulos, Portas é só o mais recente exemplo de quem entra na vida pública para dela colher incomensuráveis benefícios pessoais. Mas, a exemplo do que sucedera com o caso dos submarinos o Ministério Público insiste em se manter zarolho, ao mesmo tempo que Assunção Cristas não desiste de se apresentar como a virgem púdica, que conhece bem demais os podres do seu convento no Largo do Caldas.
3. Quando andou por aí ativa a praga amarela dos que defendiam subsídios ilegítimos para os colégios privados um dos principais argumentos invocados tinha a ver com os muitos professores doravante condenados ao desemprego.
Um relatório agora publicado pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência mostra como os anos da troika, em que o ensino público sofreu sucessivos e gravosos ataques de Nuno Crato e os colégios privados eram beneficiados, foram aqueles em trinta mil professores se viram afastados da sua profissão.
Obviamente que os defensores de tão indecorosos privilégios nunca se lembraram de chorar sequer uma lágrima de crocodilo por quem se viu condenado ao desemprego devido ao decréscimo de alunos em parte transferidos para os colégios privados. Porque mereceriam agora que deles nos compadecêssemos?
4. Mantenho a previsão de que até ao final do ano Erdogan sucumbirá a um atentado para que não será difícil imaginar quem o estará a estas horas a prepará-lo: os islamistas favoráveis ao diabolizado Gullen, os fundamentalistas sempre ciosos de demonstrarem os benefícios da tese “quanto pior melhor”, os curdos cujo passivo de mortos e de detidos pelo regime só tem aumentado exponencialmente ou a CIA a partir do seu Estado Maior em Fort Langley? Ou quiçá uma aliança de alguns destes prováveis suspeitos?
A histeria repressiva empreendida pelo regime e a visita à Rússia de Putin só revela o medo em que vive Erdogan. Ele sabe-se numa corrida contra o tempo para evitar o provável fim, mas o seu extremismo autossuficiente mais o isola e fragiliza.
Novos ventos soprarão dos lados de Istambul e de Ancara nos próximos meses...
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