terça-feira, 23 de agosto de 2016

A modernização japonesa não significou ocidentalização

Em 1853 quatro ameaçadores navios de guerra americanos apareceram na baía de Edo, a maior cidade japonesa para forçarem os “anfitriões” a reabrirem o comércio, que os shoguns tinham proibido nos últimos dois séculos.
Face aos canhões apontados para os principais edifícios do poder político, este cede e assina tratados desiguais, que logo suscitaram um debate intenso na elite governativa. Esta sente a urgência em compreender como conseguiram os bárbaros tornar-se tão imbatíveis.
A crise interna teve as suas consequências:  em 1868 o desacreditado shogun é derrubado e substituído por quem fora esquecido durante séculos a fio - o Imperador, que abandona o seu palácio em Kyoto e instala-se em Edo, doravante conhecida como Tóquio. É o início da era Meiji, durante a qual o Japão irá evoluir e equiparar-se ao ocidente.
Durante décadas os historiadores ocidentais leram essa época de acordo com os seus padrões culturais e por isso mesmo concluíram que se tratou de uma acelerada ocidentalização, com os nipónicos a copiarem tudo quanto tinham visto aos estrangeiros.
Pierre-François Souyri, professor da Universidade de Genebra, tem uma leitura diferente: em aparência o Japão ocidentalizou-se , mas, na realidade, modernizou-se sem se ter verdadeiramente ocidentalizado.
A realidade manda reconhecer que a Revolução Industrial começara muito anos dessa prova de força dos ianques quando, em 1820, surgiram manufaturas têxteis em Osaka e uma grande aposta nas políticas educativas.  Os mais letrados também já se insurgiam contra o fecho dos portos a navios estrangeiros.
Por isso, aquando do ultimato norte-americano os japoneses já estavam intelectualmente preparados para avançar para tal modernização. Tanto mais que os avanços educativos tinham muito de confucionista e é nesse quadro que a apetência pela mudança se faz sentir.



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