segunda-feira, 23 de maio de 2016

Pensar fora da caixa

Uma das coisas, que mais me irritam é o pensamento cristalizado, aquele que recusa bater asas e voar fora da caixa. Porque, perante situações, que se vão alterando e gerando novos desafios, os discursos não mudam, ficam exatamente iguais aos que eram os de há uma, duas, quiçá mesmo três décadas.
Veja-se o artigo do «Público» em que a São José Almeida vai entrevistar diversos nomes sonantes do Partido Socialista a propósito da possibilidade de já não ser tão forte o europeísmo nas respetivas hostes. E se não me surpreendem os posicionamentos de Sérgio Sousa Pinto ou Eurico Brilhante Dias, que dizem o que fazia sentido nesse longínquo passado, já posso ficar mais inquieto com a incapacidade de Ana Catarina Mendes ou Pedro Nuno Santos não se dissociarem do «politicamente correto», recusando-se a enfatizar o facto de a União Europeia ter perdido a focalização na progressiva, e determinada, coesão entre os seus membros para possibilitar o enriquecimento dos países do Norte às custas do empobrecimento dos do sul.
Falando com muitos socialistas não posso dizer que haja já uma forte corrente eurocética, mas crescem decerto as dúvidas quanto à possibilidade de se retroceder nesse perigoso aprofundamento das desigualdades entre os membros da organização e ser altura de ir pensando no que poderá surgir como alternativa. É que, se de um momento para o outro a implosão se verificar, convirá não ser apanhado desprevenido.  E, sinceramente, essa hipótese não parece já muito distante, por muito que o Brexit só corresponda a um primeiro sinal…
Outra das situações, que me andam a irritar por estes dias, quanto à necessidade de se pensar fora da caixa, tem a ver com a provável vitória de um neonazi para a presidência da Áustria. O que demonstra a falácia de balizar a Democracia em votações universais onde todos os cidadãos sejam convidados a optar por quem consideram ideal para os representar como líderes.
Que a Democracia não tem nada a ver com a regra do «um cidadão, um voto», demonstram-no as vitórias passadas de Hitler, dos salafistas argelinos, da Irmandade Muçulmana no Egipto ou do corrupto Mugabe em sucessivas eleições no Zimbabwe.
Quando a Constituição de 1975 foi promulgada um dos seus artigos mais relevantes era o da proibição de todas as organizações de cariz fascista.
É por isso que acredito na necessidade de reduzir seriamente o âmbito do que se considera democrático ao que está inscrito na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O que exclui por natureza regimes como o do turco Erdogan, o da Polónia ou o dos ayatollahs iranianos por misturarem religião com política e com justiça, quando só o laicismo garante a igualdade de direitos a todos os credos, inclusive aos que se assumem como ateus ou agnósticos. O que exclui o regime húngaro de Orban, que é manifestamente racista, como se comprova na perseguição assassina, que move aos ciganos. Ou ainda o do Brasil por ser ostensivamente branco e constituído por homens corruptos, que violam muitos dos preceitos de uma governação decente.
Pensar fora da caixa significa ver a Democracia como ela é implementada na governação em vez de a considerar respeitada na forma como alguém acedeu ao poder.
Tempos novos implicam formas renovadas de se pensar. E de agir politicamente. Estamos, pois, confrontados com o desafio de, para ajustarmos as nossas sociedades à matriz de mais igualdade, justiça e fraternidade, elevarmos os padrões do nosso empenho na Cidadania responsável...



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