Não é que o artigo no seu todo não mereça leitura obrigatória, mas o que ontem assinou Rui Tavares no «Público» («Uma terra sem factos») dá três exemplos concretos do enviesamento das televisões em relação às notícias provenientes das instituições europeias.
No primeiro temos as recomendações da Comissão sobre a necessidade de se alterarem as leis da insolvência, se combaterem as desigualdades sociais e se incrementar o investimento público. Ou seja, tudo matérias defendidas pela esquerda plural e a contracorrente da lógica implementada pela direita nos últimos quatro anos.
Notícias nas televisões: nenhumas! Os seus jornalistas terão mostrado uma singular seletividade ao não encontrarem nelas motivo para inserirem nem que fosse uma pequena peça sobre o assunto.
Mas ao lerem sobre a meta do défice a ser atingido pelo país no corrente ano, não fazem a coisa por menos. Substituem “meta” por “exigência” e até avançam as contas por eles feitas quanto aos milhões de euros em cortes, que isso implicará em austeridade. Ora o Rui Tavares deu-se ao trabalho de ler o documento e não encontrou o mínimo sinal que justificasse esse tom alarmista, que as televisões fomentam com óbvias intenções partidárias.
E conclua-se com as declarações de Jeroen Dijssebloem, apanhado à má-fila num átrio em intervalo da reunião do Eurogrupo e a quem a jornalista portuguesa faz a pergunta com óbvia intenção de a manipular no sentido pretendido: Portugal irá ter sanções?
Naquele momento,, o que seria expetável da reação do político holandês? Que dissesse o óbvio: os tratados assim estipulam e existem motivos que as possam justificar. É a típica resposta “by the book”, que não condiz por certo com o que se verificará na prática. Mas os embusteiros, que lideram a informação das várias televisões podem prosseguir na narrativa de uma ameaça, que estaria mais umas semanas a pender sobre a cabeça deste governo.
O que podemos concluir destes três exemplos, por muito bem que já o saibamos, é quão despudorada é o comportamento das televisões em relação ao seu compromisso de oferecerem uma informação eticamente irrepreensível.
Está a transformar-se numa urgência a substituição dos atuais titulares da ERC - que nunca se fazem ouvir nestes casos! - e conferir a tal órgão regulador os poderes para se mostrar mais interveniente. Inclusive com poderes para pôr em causa as licenças dos canais mais relapsos à mudança se tal se mostrar necessário.
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