Há um poema de Bertolt Brecht, que mantém a sua plena atualidade, apesar das décadas já decorridas desde que ele o escreveu. É o «Elogio da Dialética».
Ao vermos as cenas provenientes de França em que um governo «socialista», quer impor uma lei laboral, que determina o funeral dos direitos dos trabalhadores reconhecidos em convenções coletivas e lhes acena com a precariedade como incontornável fatalidade, só podemos dar razão ao diagnóstico, que o dramaturgo e poeta alemão faz nos seis primeiros versos:
A injustiça avança hoje a passo firme;
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo.
Se ouvirmos os opinadores das nossas televisões ou os dijsselbloems, que sem os termos elegido, se atrevem a pôr e dispor sobre que tipo de governação deveremos ter, podemos ser levados a crer na futilidade dos nossos esforços para que as coisas mudem, e deixem de continuar a ser como são. Seria a atitude dos oprimidos que baixariam os braços e concluiriam: Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Mas Brecht apressa-se a considerar que, depois de falarem os dominantes/ falarão os dominados, prosseguindo:
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
Será crença utópica? Nem pensar. Senão esquecemos os que, de entre nós, andámos a temer nos inícios da década de 70, que o marcelismo se aguentasse tanto como o salazarismo e o vimos ruir na manhã clara de Abril do nosso deslumbramento,
Que dizer de Mandela, que terá decerto pensado muitas vezes, que morreria atrás das grades da prisão da Ilha de Robben e ainda conseguiu ver o apartheid deixar de existir.
E pegando na sugestão do escritor Eduardo Pitta, o primeiro a assinalar a importância da série «Uma Aldeia Francesa» em exibição no segundo canal da RTP, quantos resistentes passivos ou ativos à ocupação nazi e ao colaboracionismo de Vichy terão desesperado com a falta de motivos para considerarem exequível a Libertação que veio a ocorrer, transformando em criminosos passíveis de pena de morte os que, durante quatro anos os terão fustigado com o seu poder aparentemente absoluto?
Em todas essas situações os poderes, que pareciam impossíveis de derrubar, acabaram tombados como se fossem castelos de cartas.
Em todas essas situações os poderes, que pareciam impossíveis de derrubar, acabaram tombados como se fossem castelos de cartas.
É isso que pode acontecer a breve trecho com uma União Europeia, onde Schäuble & Cª parecem de pedra e cal. Mas, na realidade, as ameaças ao statu quo - com a ascensão da extrema-direita, a estagflação e os refugiados - obrigarão os democratas a arrepiar caminho e a deitar às malvas as falsas soluções neoliberais.
Em Bruxelas e em Estrasburgo já muitos reconhecem a iminência do fim de um ciclo, com algo a mudar por pressão de uma dinâmica, que os líderes do PPE não conseguirão travar.
É que a receita até continua a existir no modelo escandinavo de maior participação cívica dos cidadãos, da importância aí conferida às forças sindicais, dos níveis mais baixos de desigualdade e da incomparável prosperidade económica.
Os últimos anos demonstraram à saciedade o que resulta da desregulamentação financeira e da crença estúpida na tal mão invisível dos mercados.
É tempo de recuperar o prestígio do Estado defendendo sem medos uma sua maior intervenção na economia. Só ele é capaz de criar as condições para uma distribuição mais justa da riqueza produzida, para criar serviços públicos efetivamente ao serviço dos cidadãos e para investir no sentido da correção das assimetrias regionais e sociais.
Ao contrário do que defendem os franciscos assis, cuja permanência no PS só se explica pela capacidade de sabotagem, que ainda se julguem capazes de fazer, importa acabar com a ortodoxia dos que, à esquerda, continuam a crer na bondade da ação dos mercados quando eles parecem tomados de uma crise incurável para a qual nenhum guru parece encontrar cura.
No fundo vale a pena propor as soluções que já muitos andam a considerar como as mais prometedoras: a implementação de um programa assente no marxismo devidamente atualizado às circunstâncias do futuro próximo. Porque, afinal, a história dos povos continua a ser a da luta de classes...
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