1. Sei que, com os meus mais de cem quilos, tenho pouca legitimidade para falar criticamente do assunto, mas a verdade é que o estudo agora conhecido sobre a saúde dos portugueses aponta a obesidade como um dos seus principais problemas: 2/3 dos adultos apresentam excesso de peso, quase o dobro do que se verificava há uma década. Os especialistas explicam essa alteração como o efeito da crise entretanto vivida, porque a comida mais barata é também a mais desequilibrada caloricamente. Mas há quem conteste essa relação causa-efeito e, de facto, o terço de peso que carrego a mais nos ossos explicar-se-á, igualmente, por razões genéticas. Muito embora deva reconhecer que deveria ser mais regular no exercício físico e não me mostrar tão dependente do consumo dos doces. Mas, agora, que chega a época farta dos gelados, como resistir-lhes?
2. No relatório agora emitido pela Walk Free Foundation, Portugal subiu 35 lugares no ranking dos países com maiores índices de escravatura: em 2015 existiriam 12 800 pessoas sujeitas a essa forma odiosa de exploração no nosso país, enquanto em 2014 eram “apenas” 1400.
De entre os 165 países analisados Portugal ocupa agora o 122º, quando era o 157º no ano anterior.
Embora reconheça que, atualmente, o país é dos que maior esforço está a investir para combater o fenómeno, com legislação adequada e o seu Observatório do Tráfico de Seres Humanos, esse retrocesso leva Fiona David a sugerir uma maior pressão do governo junto das empresas a fim de as dissuadir de recorrer a este tipo de mão-de-obra. E não é, propriamente, por ela estar escondida: ainda hoje, durante uma reportagem televisiva sobre a colheita de cerejas na zona do Fundão, constatava-se que os operários agrícolas eram todos asiáticos.
Não seria avisado que a Inspeção Geral do Trabalho fosse verificar in loco as condições contratuais em que eles ali estão comprometidos?
3. Não deixa de ser curiosa a desculpa da tia Jonet a respeito da quebra em 8% das dádivas agora conseguidas com a mais recente recolha de alimentos para a sua organização caritativa. Segundo ela tudo se explicaria pelo facto de ter sido «ponte» e as pessoas terem acorrido em menor número aos hipermercados.
Ora, se a reacionarice não lhe tiver toldado de vez a cabeça, a “caridosa” criatura já deverá ter percebido, que os portugueses estão cada vez menos dispostos a contribuir para uma campanha destinada a permitir às Sonaes, Pingo Doces & Cª o aumento significativo dos seus lucros e do esvaziamento dos seus armazéns, ao mesmo tempo que alivia a consciência de quem olha para os pobrezinhos com o filtro da sua mente assistencialista.
Em definitivo não é com ações caritativas, que se resolvem os problemas da pobreza! Torna-se necessário, mudar o tipo de sociedade em que vivemos. Mas isso constituiria para as jonets deste país um terrível pesadelo...
4. Basta ver o vídeo que anda a correr nas redes sociais com entrevistas aos participantes no pequeno foco epidémico de domingo no largo entre a Rua de São Bento e a D. Carlos I, para perceber o que lhes ia nas mentes. Não é preciso nenhum comentário, nem explicação: a verborreia troglodita assume tal dimensão, que se compreende bem como nesses defensores de 3% dos colégios privados do país se concentra um exacerbado núcleo de gente de extrema-direita.
Daí que esteja com alguma curiosidade em saber se António Costa acede ao pedido de receber os seus líderes, depois de Alexandra Leitão ter dado o assunto como encerrado. É que, na forma como tudo evoluiu nos últimos dias, o mais asizado seria mandá-los passear até aos Restauradores na esperança de aí encontrarem a placa de toponímia, que mais se lhes ajusta: a Travessa do Fala-Só.
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