sábado, 28 de maio de 2016

O Tio Sam nunca perdeu os seus hábitos

José Goulão sempre tem sido um jornalista, que me tem merecido particular atenção apesar de ter sido saneado das publicações dos grandes grupos económicos por não se enquadrar no tipo de discurso ideológico por eles pretendido.
O afastamento compulsivo de profissionais competentes para dar lugar aos que se mostram entusiasmados na condição de “their masters’ voices” foi um fenómeno, que se acentuou na última década com os meios de comunicação cada vez mais concentrados nas mãos de um grupo reduzido de proprietários - Balsemão, SONAE, Igreja Católica, Cofina, plutocratas angolanos .
A tribuna de José Goulão passou a ser o seu blogue - «Mundo Cão», acessível na plataforma «A Viagem dos Argonautas» - onde podem ser lidas algumas opiniões distintas das dos lugares-comuns vigentes nas publicações donde foram expurgadas.
Em texto recente ele anota a coincidência da atual embaixadora norte-americana em Brasília, Liliana Ayalde, ser a mesma, que estava colocada no Paraguai, quando ali se deu o impeachment do presidente Fernando Lugo, o primeiro democrata a assumir a função depois da queda da ditadura de Stroessner e seus descendentes. Aconteceu em 2012 e acabava assim com uma experiência governativa, que suscitara as maiores reservas em Washington, por se tratar de algo assumidamente de esquerda no antigo quintal do tio Sam.
Sabemos que Dilma era vista pela Administração Obama com a mesma desconfiança ao ponto de ter sido uma das chefes de Estado comprovadamente espiadas pela NSA em tudo quanto eram as suas comunicações.  Agora, por singular “coincidência”, viu-se sujeita ao mesmo destino do antigo presidente paraguaio e com a mesma embaixadora.
E para que essas similitudes ainda mais surjam como singulares, enquanto o governo de Dilma foi substituído por uma quadrilha de corruptos, Lugo viu-se sucedido por Horacio Cartes, um banqueiro acusado de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico, sem que isso levante quaisquer escrúpulos nos que precipitaram a sua ascensão ao poder.
A máscara de Obama há muito caiu, desiludindo os que acreditaram na possibilidade de ele fazer alguma diferença em relação ao comportamento assumidamente imperialista do seu país. A CIA aumentou a sua atividade, a NSA prosseguiu a espionagem global e fez de Snowden um perpétuo foragido, a indústria do armamento fatura como nunca (agora até no Vietname  encontra promissor mercado!) e Wall Street vai preparando novas bolhas especulativas, que enriquecerá os mesmos do costume e massacrará novas gerações de inocentes.
Na América Latina, depois de um conjunto de viragens à esquerda, que pareceriam mudar de paradigma a realidade do continente, as ayaldes a soldo do Departamento de Estado já conseguiram reverter as situações políticas em Assunção, Buenos Aires e Brasília, não tardando a repeti-lo em Caracas.
Goulão coloca pergunta pertinente no final do seu artigo: para onde seguirá a seguir esta embaixatriz especialista em golpes de low profil? Para La Paz, Quito, Montevideu?

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