Uma das teses falaciosas que a direita conseguiu impor no discurso mediático é a da estafada insustentabilidade da Segurança Social. Ainda há bocado, na edição do «Inferno» do Canal Q, a locutora de serviço fazia um aparte sobre esse assunto numa peça em que se ironizava com as vacas voadoras anunciadas por António Costa na sessão sobre o Simplex.
Ademais as notícias de mais cortes nas pensões na Grécia, e da possibilidade disso também vir a acontecer em Itália, vão servindo de preparação para essa eventualidade tão-só os reformados tenham a desdita de ver a direita a regressar ao poder.
E, no entanto, ainda esta semana o ministro Vieira da Silva explicava a solução ponderada pelo governo: um financiamento menos concentrado no fator trabalho e que passe a incidir nos impostos sobre os lucros das empresas.
Não será essa a solução mais natural tendo em conta o efeito que as tecnologias vão tendo na destruição dos empregos?
Ainda há dias constatei as obras em curso nas portagens entre Lisboa e Setúbal, muito presumivelmente para montagem das que dispensam as cabines dos portageiros, passando a ser totalmente automáticas. Vejamos uma empresa em que se passe algo de semelhante: a dispensa de trabalhadores pela implementação de novas ferramentas tecnológicas.
Imaginemos que tinha 1000 trabalhadores que, em média, descontavam 100 euros para a Segurança Social, ou seja um total de 100 000 euros mensais. Nesta situação a empresa apresentava em média um valor semelhante em lucros.
Passemos à fase seguinte, em que são despedidos 200 trabalhadores, passando os 800 restantes a descontarem 80 000 euros mensais para a Segurança Social, que se veria assim espoliada de 20 000 euros.
No entanto, ao deixar de pagar os salários a esses ex-colaboradores, a empresa passava a ter 300 000 euros de lucros mensais, porque as vendas - o nº de carros a passarem nas suas portagens -manter-se-ia o mesmo.
Não será justo que o Estado cobre pelo menos metade desses 200 000 euros a mais que a empresa passou a ganhar a mais? Teríamos assim, para o mesmo volume de negócio, o Estado a obter da empresa 180000 euros para a Segurança Social em vez dos anteriores 100000!
Quem diz que, numa situação deste tipo, ela não é sustentável e precisa de sobreviver à custa dos cortes nas pensões dos que já trabalharam toda a vida para as merecer?
Vieira da Silva já acenou com a hipótese a avançar. Agora é só uma questão de ter a determinação e a coragem para a concretizar!
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