Não precisávamos da escuta telefónica a Romero Jucá para confirmarmos o carácter golpista e corrupto de toda a conspiração, que conduziu ao impeachment a Dilma Rousseff. Mas a sua evidência só serviu para convencer os que ainda andavam ingenuamente a acreditar que a narrativa criada pelos órgãos de informação, pelas igrejas evangélicas e pelos políticos de direita, tinha alguma veracidade.
É por isso que a atual onda de contestação de 3% dos colégios privados portugueses contra o governo tem muitos aspetos reveladores do que lhes está na génese. A escolha do amarelo - a mesma dos golpistas brasileiros - para fardar as criancinhas arregimentadas pelos promotores para se manifestarem nas ruas parece bem mais do que uma mera coincidência. E essas similitudes ainda se tornam mais perturbadoras se olharmos para a data escolhida para a manifestação do próximo domingo.
Quem chamou a atenção para essa “coincidência” foi o meu amigo Arnaldo Serrão, que foi lesto a compreender as intenções omissas de fazerem coincidir esse protesto com o fim-de-semana da efeméride do movimento golpista de Braga que, em 1926, veio dar origem ao Estado Novo.
Torna-se óbvia a intenção deste grupo de contestatários, apoiados indecorosamente por Marcelo, pelas televisões, pelas igrejas e pelos partidos da direita, em derrubarem o governo de António Costa, e trazerem de volta os tempos faustosos em que Nuno Crato ia tratando de levar por diante a estratégia de tornar irreversível a degradação da Escola Pública em proveito dos colégios privados.
O golpismo é evidente e carece de uma forte resposta da esquerda, que anda a demorar demasiado tempo em organizar um firme repúdio nas ruas das principais cidades do país.
É que esse movimento de um reduzido número de colégios prefigura o que de pior tem a corrupção entre nós: não é uma imoralidade descarada, porque os seus beneficiários podem sempre alegar a sua leitura enviesada da lei, mas é uma corrupção sonsa, que envolve colégios na Educação, mas muitos outros favorecidos nas áreas da Saúde e da Segurança Social, que vivem à conta de um Orçamento pago por todos nós.
É um cancro, que sobrevive há décadas no nosso país: interesses privados, que utilizam o Estado em seu proveito, julgando-se com direitos a rendas, que nunca deveriam ter auferido. Até porque, ao contrário do que quiseram-nos convencer, está muito longe de ser provada a teoria segundo a qual a Administração Pública gere o que a ela cabe com menos eficiência do que os privados. Como o estado em que está a Banca bem comprova.
A cultura que os Tempos Novos desta esquerda plural deverá recuperar é a lógica, que abespinha os josés gomes ferreiras dos nossos dias: que as nossas vidas não devem ser comandadas pelo que eufemisticamente classificam como os interesses dos mercados, mas o são de um punhado de oportunistas gananciosos, que tudo farão para voltarem a cultivar a lógica de desigualdade crescente na nossa sociedade.
Sim! É importante revalorizar a Escola Pública e o Serviço Nacional de Saúde!
Sim! É imprescindível encontrar novas fontes de financiamento para a Segurança Social através das excessivas mais-valias das empresas, que apostam na precariedade de quem contratam!
Sim! Importa recuperar uma forte Banca estatal, que cumpra com eficácia e competência o papel, que os bancos privados têm-se mostrado tão pouco capazes de assegurar!
E, embora, isso já entre na perspetiva das vacas que voam, seria fundamental que privatizações ilegítimas, avançadas por Passos Coelho, na EDP ou na REN, revertessem pelo menos para o mesmo tipo de correlação já conseguida na TAP.
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