Amanhã faz um ano que as eleições israelitas garantiram a quarta vitória eleitoral a Netanyahu em vinte anos, e suficientemente expressiva para se livrar da obrigatoriedade de uma coligação com centristas ou trabalhistas. Hoje, o governo de Telavive é constituído por ministros do Likud e da extrema-direita, todos eles irmanados no projeto de se oporem à criação do Estado Palestiniano.
Não admira que Netanyahu projete mudar a Constituição para definir Israel como “Estado-nação do povo judeu” em que os a ele não pertencem (muçulmanos, católicos e outros) ficariam sem direitos coletivos apesar de significarem 20% da população. O primeiro-ministro israelita não aprendeu as lições históricas do apartheid e prepara-se para o legalizar não só no território reconhecidamente israelita, mas também nos ocupados cuja devolução tenta retardar o mais possível.
Valendo-se da maioria que suporta o seu governo tem, igualmente, posto em causa a tradição democrática do país, fazendo todos os possíveis para silenciar e intimidar quem com ele não concorda. Razão para alguns considerarem existir atualmente uma Inquisição organizada por aqueles que descendem dos que, séculos atrás, eram as vítimas de tão sinistra instituição.
Escritores prestigiados como Amos Oz ou David Grossman são enxovalhados nas redes sociais e nos meios de comunicação dominados pelo governo, por se oporem à ocupação dos territórios palestinianos ou se limitarem a defender os mais básicos princípios democráticos.
Todas as semanas a direita e a extrema-direita denuncia “novos traidores”, quase todos vinculados a organizações não governamentais de esquerda, acusadas de serem toupeiras financiadas por interesses estrangeiros. E, porque muitos dos que as subsidiam são governos europeus, estes veem-se acusados de cúmplices do terrorismo.
Assiste-se, pois, a uma radicalização de franjas importantes dos dois lados do conflito na região: do lado palestiniano incrementam-se os atentados aleatórios com armas brancas, por se conjeturar na possibilidade de passar pelo “quanto pior, melhor” a forma de virem a ser reconhecidos os direitos palestinianos. Encontram fundamento no repúdio internacional a que se sujeitaram as forças militares sionistas da última vez, que invadiram a Faixa de Gaza.
Por outro lado, Netanyahu e os seus apoiantes continuam a iludir-se com a possibilidade de uma vitória numa guerra, que nunca acabará e em que a demografia e a crise económica corre em seu desfavor.
Segundo estudos recentes só 22% da população acredita na estratégia do governo, contando-se 20% nos que integram o grupo social laico, urbano, culto e de sensibilidade liberal. Razão para crer que, apesar de tudo, continua tudo em aberto no país de Bem Gurion. Até pode vir a acontecer que, a exemplo do sucedido com Frederik de Klerk na África do Sul algum sizo ganhe espaço em quem continua sem o demonstrar com tudo o que isso implica em perdas de vidas humanas, quer nas famílias judias, quer nas palestinianas...
Sem comentários:
Enviar um comentário