A meio da tarde uma amiga, que é professora no ensino público, ligou-me em tom escandalizado com a convocatória de uma manifestação da tropa fandanga dos colégios privados e da igreja para causarem poluição sonora no próximo domingo numa passeata até S. Bento.
O que podemos fazer? E se marcássemos uma concentração para o Terreiro do Paço à mesma hora em defesa da escola pública?
A ideia parece-me excelente, mas não para coincidir com esta nova mobilização de criancinhas para defenderem a ideologia retrógrada dos papás. O que nós menos precisamos é de facilitar às televisões o trabalho de compararem uma mobilização altamente profissionalizada, com cartazes e com fardetas amarelas à mistura, com a da expressão espontânea de repudio convocada em cima da hora e em moldes completamente amadores. Seria dar aos defensores da negociata de alguns interesses privados a possibilidade de dizerem: “vejam como nós somos mais do que aqueles que de nós discordam”, mesmo sabendo que quase todo o país está contra eles.
Discordo, porém, dos que pensam ser desnecessária a mobilização dos defensores da Escola Pública só porque o governo em geral, e os titulares do Ministério da Educação em particular, dão mostras de firmeza na resolução deste caso. Pelo contrário, é tempo da esquerda plural organizar uma enorme manifestação, que cale definitivamente Marcelo, a Igreja e os colégios. Que a generalidade dos que se recusam a contribuir com os seus impostos para essas rendas à conta das quais alguns têm privilégios ilegítimos, venham para a rua e digam o repúdio quanto à campanha a que Passos Coelho se volta a colar oportunisticamente.
Cabe pois a quem está nas sedes do Largo do Rato, da Rua Soeiro Pereira Gomes ou da Rua Palma, bem como aos dirigentes sindicais dos professores - calculo que não sejam muitos os seus associados nos colégios dos betinhos! - preparar e dar a devida resposta nas ruas, sob pena de as ver apenas ocupadas por esta turba.
E essa manifestação será tanto mais importante, quanto deve dar o sinal ao que a seguir se verificará: a necessidade de o Governo ceifar a eito as rendas de muitos outros negócios semelhantes nas áreas da Saúde e da Segurança Social.
Se vemos a Igreja Católica mobilizada nesta batalha é por saber que, queira António Costa prosseguir com o fim dos subsídios indevidos a quem se financia graças aos acordos para operações e exames clínicos fora dos hospitais públicos ou graças aos velhinhos arregimentados em lares só viáveis graças ao Estado, muito do dinheiro por ela acumulado sem qualquer escrutínio de um Tribunal de Contas, deixa de entrar nos seus cofres.
Em definitivo se os papás dos meninos dos colégios privados querem aí mantê-los, quando as escolas públicas os poderiam perfeitamente receber, que paguem essa opção. Se a Igreja Católica quer manter a sua fachada de praticar a caridade, que o faça à custa dos que acreditam no seu credo, mas nos liberte a nós, contribuintes, de dar para tal peditório.
Quanto aos demais, aos diretores e donos de colégios, que recebem ordenados indecorosos e se fazem deslocar em carros de alta cilindrada, que encontrem alternativas de investimento igualmente rentáveis, mas que, em si, contribuam positivamente para o crescimento económico do país.
Por muito que Marcelo e Passos o queiram evitar os portugueses estão fartos de uma numerosa quadrilha de oportunistas, que tem vivido à conta do Orçamento...
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