Na semana passada, Matthieu Croissandeau, diretor do «L’Obs», insurgia-se em editorial contra a estupidez, que está a conduzir a esquerda francesa para uma merecida derrota eleitoral. E as perguntas por ele colocadas no seu texto faziam plenamente sentido em Portugal há cinco anos, quando as nossas esquerdas plurais abriam de par em par as portas por onde Passos Coelho acederia ao «pote».
É pena que os portugueses tenham sofrido quatro anos de sucessivos enxovalhos em nome da austeridade para, até ver, não fazerem aqui sentido as palavras de Croissandeau na revista parisiense:
“Alguma vez se viu à direita os rivais acusarem-se entre si de não serem verdadeiramente de direita? Alguma vez se viu na direita os responsáveis desqualificarem os potenciais aliados dizendo-os incapazes de assumirem o poder? (…)
O drama da esquerda em período eleitoral sempre foi o de confundir os concorrentes e os adversários, consagrando mais energia a demarcar-se do que a combater, privilegiando a rejeição a projetos credíveis. Ao debate sobre as propostas prefere o jogo dos comportamentos. A revolução ou a reforma? (…) O pior é que isso já dura há cem anos.”
Será que, entre nós, já aprendemos a lição? Francamente não sei: embora a trabalhar no Brasil, um amigo próximo ainda há dias comentava um post meu no facebook, teimando em como o PS não é de esquerda.
Pessoalmente, se olhar para as crónicas de António Galamba no «i», até posso concordar que algum PS deixou de ser de esquerda ou nunca o foi.
Olhando para outros que, localmente, se arvoram em socialistas, mas com reprováveis comportamentos éticos, e teimando na escusa da defesa dos princípios inerentes a tal matriz ideológica, desmerecem ser considerados como “camaradas” não duvido.
Mas não tenho qualquer dúvida que a viragem à esquerda protagonizada por António Costa, e o Tempo Novo por ele anunciado, pressupõe a opção determinada pela defesa dos interesses da grande maioria dos portugueses, contra os daquela elite posta momentaneamente fora de combate com a calamitosa situação para que arrastou o setor bancário e à defesa perante a possibilidade de se lhe conhecerem novas fugas de informação oriundas dos paraísos fiscais para onde transferiu o produto do esbulho a que sujeitou os que cá continuaram a pagar os impostos.
Daí que deseje uma consolidação das convergências já conseguidas e que a direita fique impedida o mais duradouramente possível de voltar a ser eficazmente maligna.
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