Ou muito me engano ou os meios de comunicação social têm andado “distraídos” a respeito de um dos livros acabados de sair em Portugal e que denuncia as culpas do Vaticano em relação a um dos seus pecados mortais: a avareza.
Será porque, a exemplo do que o autor sentiu na própria Itália, a Igreja Católica ainda tem uma influência determinante no quotidiano político e mediático do nosso país? E, no entanto, o jornalista do «L’Espresso» apresenta provas irrefutáveis da sua denúncia: em vez de utilizar grande parte das esmolas recolhidas para beneficiar os pobres - elas totalizaram 53,2 milhões de euros em 2012 - a Cúria romana fica com a grande parte, mais de 70%, para a vida de luxo dos seus cardeais e para investimentos financeiros.
Fittipaldi dá o exemplo do influente cardeal Bertone, que desviou 200 mil euros de um hospital pediátrico para a remodelação do seu luxuoso apartamento. Mas ele é um entre muitos, que possuem habitações de mais de 400 m2.
Outro negócio que suporta as atividades financeiras do Vaticano são as beatificações que se converteram num negócio: só a da espanhola Ana de las Dolores terá custado quase meio milhão de euros aos seus promotores. Donde se conclui o óbvio: os países mais ricos têm direito a muitos santos, porque podem-nos pagar, enquanto os países pobres são obrigados a reconhecer que, na questão da distribuição divina da santidade, cumpre-se a regra terrena de uma desigualdade incontornável entre os abonados e os desabonados.
O livro é explicito nas participações financeiras do Vaticano na indústria petrolífera e nos bens imobiliários, com o seu banco a comportar-se como uma offshore, escondendo a identidade dos seus clientes.
Perante tudo isto será que o Papa Francisco comporta-se em rutura com as práticas anteriores e aposta na transparência? Engano ledo de quem o tem incensado demasiado para a efetiva mudança por ele protagonizada. Fittipaldi tornou-se numa «besta negra» do pequeno, mas influente, enclave romano e está sujeito a processos judiciais destinados a infernizarem-lhe a vida. Fica a ideia de, também com este novo Papa, se cumprir o preceito lampedusiano de se aparentar mudar alguma coisa para que o essencial fique na mesma...
Mas, porque a nebulosidade do Vaticano também é a da Igreja portuguesa, seria interessante um estudo similar sobre os dinheiros por ela obtidos, não só nas suas muitas instituições “caritativas”, escolares e do setor da Saúde, mas sobretudo nos fluxos financeiros gerados pela exploração do santuário de Fátima. É que o dinheiro ali deixado pelos crentes não é sujeito a qualquer escrutínio, nem se sabe que tipo de negócios ou investimentos suporta.
Ora, para uma instituição, que se atreve a querer influenciar tão negativamente a vida dos portugueses, travando sucessivos avanços civilizacionais, como o que agora está a suceder com a morte assistida, muito ganharíamos em saber que verdadeiros interesses a animam...
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