Ontem fomos muitos a congratularmo-nos com a vitória de Alexander Van der Bellen na eleição austríaca, que impossibilitou à extrema-direita europeia o arvorar de mais um cabeça-de-cartaz para a sua agenda xenófoba.
Mas, como escrevia hoje Teresa de Sousa no «Público», tratou-se de uma trégua até ao próximo susto. Porque a Áustria está a constituir um bom exemplo do que seria a concretização das teses de Francisco Assis ou Álvaro Beleza se estivesse ao seu alcance a concretização do projeto de governo de um grande centrão, que excluísse as esquerdas (porque um PS com essa natureza seria obviamente um partido de direita!) e a direita mais radical.
Esse modelo de governação apresentou um resultado eloquente nesta eleição: os dois partidos da coligação, que junta sociais-democratas a conservadores, não somaram sequer 1/4 do eleitorado.
A solução criada por António Costa é inovadora e até mesmo pioneira: ao assumir-se de esquerda, e socialista sem vergonha de o ser, empurra a direita para posição contrária e clarifica muito mais o tipo de sociedade, defendido por ambos os lados: se uns pretendem a inclusão e maior justiça social, os outros confinar-se-ão nas formas de exclusão, que lhes são próprias.
Ademais há uma vantagem acrescida: ao reivindicar-se da representação dos operários e dos menos qualificados, para quem promete soluções passíveis de lhes dar esperança de ascensão social, António Costa evita que se repita em Portugal o sucedido em muitos países onde o operariado, no passado atraído pela esperança comunista, tenha transitado sem pudor para a extrema-direita. Em França, com a Frente Nacional, esse exemplo é mais do que lapidar.
Daí que seja asizado que se generalize por toda a Europa uma coligação frentista mais ou menos formalizada entre todos os que se situem à esquerda, de forma a evitar e melhor combater os Orbans e as Le Pens, que a ameaçam,
Algo que tarda em ser compreendido pelos atuais partidos sociais-democratas e socialistas, como se viu em Viena, onde o partido do poder, e supostamente defensor desta matriz, recusou-se a da indicação de voto aos seus eleitores. Como se pudesse haver alguma dúvida, quando estava em causa um democrata de um lado e um nazi do outro!
Mas a eleição presidencial austríaca ainda nos deve motivar outro tipo de reflexão: segundo os dados conhecidos, Bellen superou o neonazi no voto urbano, feminino (60% das mulheres votaram nele!) e nos eleitores com um nível de educação superior.
Pelo contrário o adversário contou com o voto de 86% dos operários, o que diz muito sobre o abandono ideológico a que eles foram sujeitos pelas forças políticas mais à esquerda.
O combate pela Educação Pública tem, também, esta importância: quem mais se informa e possui capacidades analíticas mostra-se menos atraído por ideologias, que a Europa já deveria ter, há muito, erradicado.
Carneiro Pacheco, o ministro de Salazar, bem sabia o que fazia, quando fez reverteu muitos dos avanços aprovados durante a República para garantir uma melhor qualificação dos portugueses. Explica-se assim a durabilidade do regime do Estado Novo. É por isso que a direita pretende fazer da Educação um cavalo de batalha: com o “direito à escolha” criaria uma elite por si formatada e trataria de fazer degradar o ensino público. Estaria, a longo prazo, a garantir que o poder caísse perenemente sob a sua alçada.
É por isso que vivemos Tempos deveras interessantes, mas em que devemos exigir a nós mesmos um empenhamento cívico capaz de impor os Novos rumos, que a atual concertação da esquerda plural em Portugal anuncia.
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