Convenhamos que um dos motivos que devem dar alento a António Costa é contar com um líder da Oposição, que multiplica os tiros nos próprios pés. O insuspeito Ricardo Costa reconhecia na edição de ontem do «Expresso», que a guerra por ele assumida em nome da defesa dos colégios privados está a transformar-se numa previsível derrota pessoal.
Ademais, conhecidas as suas más relações com o atual Presidente da República, adivinhar-se-á que, enquanto o PSD não mudar de cabeça-de-cartaz Marcelo manterá com António Costa a tal solidariedade institucional, que em tempos também Cavaco prometera a José Sócrates. O pior será o depois...
O problema é que aproxima-se o dia em que o tapete será puxado a Passos Coelho e o governo passará a ter de enfrentar alguém que colha maiores simpatias em Belém.
Para já são múltiplos os sinais do progressivo isolamento interno do ainda presidente do PSD que os jornais andam agora a listar. Assim:
- no jantar comemorativo do 42º aniversário do PSD, organizado no Porto na semana passada, compareceram mais de mil pessoas, mas nelas só se incluíam dois dos líderes das distritais (Viana do Castelo e Porto) e dois dos seis vice-presidentes do partido (Teresa Morais e Marco António Costa). Porque a mesa de honra arriscava-se a ter demasiadas cadeiras vazias - falhou, igualmente, Luís Montenegro! -, Passos Coelho viu-se ladeado de dirigentes locais quase anónimos a nível nacional;
- no grupo parlamentar há espanto pelo facto de a comissão política ter recomendado o voto contra a proposta do Bloco de Esquerda sobre a gestação de substituição e Passos Coelho ter-se juntado às duas dúzias de deputados da sua bancada, que votaram em sentido contrário. Ademais cresce a insatisfação por Passos Coelho ter avançado com propostas sobre a redução do numero de deputados e incompatibilidades dos políticos sem ter informado previamente das suas intenções aos diretamente visados.
Acresce ainda outro indício importante: apesar de se multiplicar em visitas a empresas e instituições, Passos Coelho não tem conseguido a companhia dos deputados das comissões parlamentares correspondentes aos setores em causa apesar das solicitações nesse sentido. É que o antigo primeiro-ministro já é tão tóxico na condição de cadáver anunciado, que já poucos resistem à fetidez que exala enquanto alguém que, politicamente já morreu, mas a quem se esqueceram de o informar.
Resta-nos a curiosidade quanto à duração desta longa agonia e de quem depois lhe sucederá...
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