Um dos grandes problemas, que se coloca atualmente ao Partido Socialista é a desafeição dos jovens da militância política. Os que a tal se propõem vão para o Bloco de Esquerda ou para o PCP, quando não mesmo para o CDS. E o PSD, até há pouco tempo, atraía os arrivistas natos, que viam na sua adesão a forma mais expedita de encontrarem um dos bens mais escassos do nosso tempo: um emprego.
Independentemente de começarmos a ver esses começarem a preferir o PS, porque orientam-se, inevitavelmente, para quem tem o poder, temos de convir que necessitamos de outro tipo de jovens: os que possam militar por acreditarem nas ideias de um projeto político. Por isso mesmo, para se renovar, o que o PS precisa é de inovar nas propostas em função de uma Visão para o futuro. Exige-se, pois, ideologia!
Por muito que apoiemos com entusiasmo esta solução governativa só a sabemos norteada pela eficácia na gestão pública de acordo com princípios de maior equidade e justiça social. Mas isso não basta para criar um pensamento coerente capaz de galvanizar quem possa sentir-se tentado a participar na sua concretização.
Uma ideologia aponta para um futuro, de acordo com um diagnóstico do presente e fundamentada nas lições do passado. Ora, perante a inevitabilidade de uma sociedade baseada nas tecnologias de informação e, particularmente, com a robotização e automatização dos processos industriais e agrários, haverá que apostar noutro tipo de fiscalidade - não apenas focalizada em quem possui um emprego ou emprega alguém - mas sobre os produtos e serviços, que comercializa. Porque a intervenção humana na criação de riqueza do produto nacional tenderá a reduzir-se, o que significará o combate à precarização através de horários de trabalho mais curtos. O que dará ensejo a uma maior aposta no emprego em setores relacionados com o lazer e com a cultura em geral.
O objetivo será pois o de antecipar as políticas necessárias para se alcançar uma sociedade avançada, em que os valores republicanos da equidade, da justiça e da solidariedade possibilitem a aproximação à Utopia da grande sociedade igualitária.
Lenine disse um dia, que o comunismo seria o somatório do marxismo com a eletricidade. Desculpe-se-lhe a pressa em chegar a um desiderato, que o capitalismo ainda haveria de adiar por mais dezenas de anos com a transformação da estratégia imperialista na globalização, que constitui a fase derradeira da sua exequibilidade, porque a lógica era a de um crescimento permanente dos mercados, das massas monetárias em circulação e dos consumidores.
Ora, não havendo a possibilidade atual para se expandir para fora do planeta, ou morre de morte natural ou acelera um final caótico traduzido nas mais sinistras distopias - aquelas que têm a ver com os monstros à solta sob a forma de xenofobia e de outras formas de imposição da força bruta dos que têm possibilidade de a exercer sobre quem só pode reagir com a força da razão do seu número. Ou seja, voltamos ao marxismo puro e duro, em que a enorme massa humana de explorados e empobrecidos rejeita de vez a ganância dos especuladores e dos plutocratas.
Temos, assim, a definição de um futuro sob a forma de uma Utopia possível, de um presente marcado pela questão leninista do «Que Fazer» e a fundamentação teórica no marxismo, que nunca deixou de estar adequado à leitura da evolução das lutas de classes com as contínuas atualizações sobre quem representa os que aí eram definidos como «burgueses» ou «proletariados».
Quer isto dizer que o Partidos Socialistas deverão tornar-se comunistas? Obviamente que não, porque essa designação passou a conotar-se com uma visão cristalizada da História dessa ideologia e, nomeadamente, com o que constituiu um trágico acervo de erros - e foram milhões os que perderam a vida por causa da visão leninista de querer impor o futuro à força bruta sem existirem condições materiais e substantivas para ela se concretizar.
Não quer dizer que o marxismo mais as tecnologias da informação não deem razão ao que Vladimir Ilich preconizara em 1920 no III Congresso da Konsomol. Como vimos com Galileu há ideias brilhantes, que só muito tempo depois se tornam óbvias.
Ficam aqui algumas pistas para a formulação de uma ideologia de que os socialistas tanto carecem. Porque deverão regressar à sua matriz fundadora - do marxismo até aos socialistas utópicos do séc. XIX, que estiveram da génese do primeiro Partido Socialista Português criado por Antero de Quental - e que até se verá facilitada pelo recente anúncio do Tempo Novo com a demais esquerda parlamentar com a qual é possível concertar o mesmo objetivo ideológico, ainda que por vias diversas.
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