Os números que se vêm conhecendo nos últimos dias falam por si e não precisam de grandes comentários:
- desde 2005 a Segurança Social não cobrou 8800 milhões de euros por fraude, evasão contributiva, isenções excessivas e dívida não cobrada;
- segundo a Autoridade Tarifária e Aduaneira, entre 2010 e 2014, escaparam-se 10200 milhões de euros para offshores localizadas em paraísos fiscais, 4000 dos quais em 2011, quando a troika veio aplicar o seu programa de cortes nos rendimentos das famílias;
Podemo-nos, então, perguntar: como estaria o país se tais situações não se tivessem verificado? Estaria a economia tão devastada como ficou nos quatro anos em que a direita foi poder? Existiriam mais de seiscentos mil desempregados? Teria acontecido a emigração de grande parte dos jovens por não terem encontrado solução de sobrevivência em Portugal?
Não custa presumir que muitos dos que defraudaram a Segurança Social integram a longa lista dos clientes dos paraísos fiscais. Gente que vive luxuosamente e paga menos impostos que muitos dos que ainda merecem a designação da quase extinta “classe média”. Graças a uma comunicação social a soldo dos interesses de tais delinquentes a grande maioria dos portugueses empobreceu nos anos mais recentes.
É por isso que a direita não precisa de se incomodar muito em exigir reformas na Segurança Social, que tornar-se-á tanto mais sustentável quanto para ela descontarem corretamente os que se têm furtado a tal. E para o equilíbrio das contas públicas, muito contribuirá o aumento da receita fiscal inerente ao combate determinado contra as práticas dos que estabelecem sedes fictícias na Holanda, no Luxemburgo, no Liechtenstein e outros sítios que tais, a fim de pagarem muito menos do que seriam obrigados a satisfazer se aqui - onde efetuaram as vendas dos seus produtos e serviços - cumprissem o seu dever. Afinal os mesmos que detém as grandes cadeias de distribuição e agravam as dificuldades dos pequenos e médios agricultores ao importarem de outras paragens o que aqui poderiam adquirir com menos custos ecológicos e maior qualidade.
Durante os quatro anos de passismo, indignámo-nos muitas vezes com as provocações do dono do Pingo Doce e outros biltres da mesma igualha, que aproveitavam a tribuna de José Gomes Ferreira para aconselharem os portugueses a apertarem o cinto e não serem tão despesistas. Agora é tempo de acabar com a complacência do poder político, que lhes tem permitido alimentar a ganância à custa das carteiras dos contribuintes. Umas inspeções rigorosas às condições de trabalho, que impõem aos seus empregados, à sua cadeia logística e à conservação dos seus armazéns podem e devem constituir o ponto de partida de uma imposição da legalidade democrática no setor do retalho.
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