Manuel Alegre é um exagerado e, por isso mesmo, tem criado alguns problemas sérios ao Partido Socialista. Agora deu-lhe para prever a possibilidade de votar em Marcelo Rebelo de Sousa na eventual recandidatura a Belém. Ainda este quase não se sentou na cadeira à secretária do gabinete de trabalho e já o poeta lhe promete apoios?
Mais cauteloso Vasco Lourenço, manteve o prudente «ver para crer», porque o futuro adivinha-se difícil e nunca podemos conjeturar quando o atual inquilino de Belém sentirá tentações de puxar o tapete a António Costa, cujas ideias estão-lhe quase nos antípodas. É que, da fábula, sempre retemos a ideia segundo a qual um escorpião, por mais enrascado que se sinta, não consegue travar a sua verdadeira natureza. E Marcelo revelou-a no pequeno pormenor de não querer colocar o cravo vermelho à lapela na sessão organizada na Assembleia da República limitando-se a agarrá-lo desajeitadamente na mão.
Mas poderá ele vir a ser um excelente Presidente com iniciativas como a que acaba de anunciar ao promover a merecidíssima homenagem póstuma a Salgueiro Maia? Pode, por uma razão fundamental e que tem a ver com a sua personalidade: vaidoso por natureza, ele gostaria de superar Mário Soares em popularidade nem que se veja obrigado a refrear os preconceitos ideológicos, que o tenderiam a obstaculizar a governação da esquerda. Enquanto esta for eficaz e competente, Marcelo colar-se-lhe-á como lapa à rocha, tanto mais que os seus antigos companheiros de partido continuam a dar sucessivos tiros nos pés. Mas conjuguem-se fatores complicados na política externa com eventuais inabilidades de alguns ministros para o adivinharmos muito ativo no incentivo a eventuais candidatos à sucessão de Passos Coelho.
Por ora, entre António Costa e Marcelo o entendimento parece inquestionável. Mas até quando não o podemos imaginar.
Ainda assim, e por mera hipótese académica, imaginemos que essa lua-de-mel dura os quatro anos da legislatura de Costa, e com este a reforçar a maioria de esquerda nas legislativas de 2019. Estaria o Partido Socialista em condições de abdicar da apresentação de um candidato próprio para apoiar um Presidente que sempre o teria apoiado? Segundo Manuel Alegre sim. Duvido é que seria esse o posicionamento de muitos outros socialistas.
É que os mandatos presidenciais são como os melões: só lhes adivinhamos o gosto (ou a falta dele!), quando os abrimos. E de Marcelo nunca nos poderemos fiar! Mesmo parecendo por agora irrepreensível no seu posicionamento institucional...
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