1. Nunca é demais enfatizar que os velhos do Restelo (e não estou a falar de Marcelo Rebelo de Sousa!) continuam a acentuar o mais que podem a iminência de más notícias para os portugueses com a governação socialista, mas os mercados continuam a desmenti-los: ontem, Portugal voltou ao mercado de dívida tendo emitido Bilhetes do Tesouro a 3 meses e a 11 meses, num total de 1.100 milhões de euros. A dívida com maturidade de três meses, no montante de 300 milhões de euros, foi colocada com um juro negativo de -0,004%.
É verdade que, em relação a indicadores anteriores, Mário Centeno reviu em baixa os relativos ao crescimento da economia, mas é crível que existe neste Governo uma capacidade de execução orçamental, que nunca se conheceu com o de Passos Coelho, sempre obrigado a retificativos por jamais ser capaz de acertar nas contas.
Ademais os efeitos de alavancagem suscitados pelo aumento de rendimento dos funcionários públicos e dos reformados, a par da iminente entrada de fundos europeus do Programa Portugal 2020, tardarão a verificar-se, mas acabarão por refletir-se na economia. Por isso mesmo, e embora a direita cruze os dedos na esperança de intervenção divina no sentido de derrubar este governo o mais depressa possível, os meses vão passando e os portugueses há muito acordaram de um pesadelo, que não querem voltar a repetir.
2. Sempre que há revelações como as do «Panama Papers» a nossa reação reflete a deceção de outras que anteriormente prometiam mudar tudo de vez, e deixaram afinal tudo na mesma.
Esta semana, porém, Ricardo Paes Mamede previu existirem atualmente razões para acreditar, que tudo poderá vir a ser diferente. É que o efeito das exigências da Administração Obama sobre todos os países do mundo, chantageando-os no sentido de assegurarem às autoridades fiscais norte-americanas as informações sobre as movimentações de capitais dos seus cidadãos conjuga-se com o incremento da consciência coletiva quanto à imoralidade da existência dos paraísos fiscais. E, por isso mesmo, a própria OCDE, que tem andado devagar, devagarinho nestas matérias, parece ganhar disposição para impor maior velocidade ao controlo internacional desta realidade.
3. O artigo já tem uns dias, mas não quero deixar de referenciar o que Isabel do Carmo escreveu no «Público» sobre este mesmo assunto: “Com as notícias que, apesar de tudo, nos vão chegando, com os escândalos financeiros uns atrás dos outros, com a fuga dos papéis do Panamá, com o alçapão dos bancos, há uma palavra que fica oculta. Há um elefante na sala, uma presença demasiado grande e malcheirosa, mas que não é referida pelo seu verdadeiro nome. O indizível, o inominável, tem um nome — chama-se capitalismo.”
E, de facto, parece existir um grande prurido em denunciar o que de pior tem acontecido à vida da maioria dos cidadãos à escala planetária como sendo o resultado da etapa a que o capitalismo chegou nos últimos anos. Cada vez mais selvagem, cada vez mais sanguinariamente predador…
4. Conheceram-se agora muito más notícias sobre o sindicalismo em Portugal: a CGTP deu a conhecer um Relatório em que reconhece ter perdido mais de 60 mil associados nos últimos quatro anos, o que somados aos 80 mil que abandonaram a UGT no mesmo período, revela um país laboral em que os que trabalham ficam cada vez mais entregues a si mesmos, sem o respaldo de uma organização coletiva, que negoceie os seus direitos.
Muito embora a crise do sindicalismo seja demasiado complexa para abordar aqui em poucas palavras, justifica-se a criação de uma estratégia da esquerda no sentido de devolver às organizações representativas dos trabalhadores a importância, que já tiveram no passado.
É que a recuperação de um país onde a Cidadania assente na representatividade volta a estar na ordem do dia, e não pode dispensar estes seus veículos sociais.
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