As demissões suscitadas por posts no Facebook, a contestação do Exército ao ministro da Defesa e a questão contratual de Diogo Lacerda Machado são exemplos reveladores de como o Partido Socialista ainda tarda em encontrar a melhor forma de lidar com os focos de contestação, que a sua governação vai suscitando e sempre aproveitados pela direita para o lento trabalho de desgaste a que se dedica porfiadamente, sabendo-se incapaz de prevalecer através de propostas alternativas.
Terminado o ciclo em que considerou ilegítimo o Executivo baseado na maioria parlamentar, a direita voltou à estratégia passada, que se mostrou particularmente compensadora durante os últimos anos da governação de José Sócrates: contando com uma comunicação social sempre pronta a secundá-la nas suas posições, apressa-se a criticar tudo quanto possa ser motivo para dar prova de vida.
Consciente da impossibilidade de lançar um tsunami politico, que varra o governo, vai apostando em pequenas vagas continuamente lançadas contra a sua costa esperando assim destruí-la a pouco e pouco.
Conta para isso com o apoio dos que, não coincidindo politicamente com os seus objetivos, prestam-se a associar-se-lhe sem perceberem como estão a ser estupidamente instrumentalizados muito para além dos seus iniciais argumentos corporativos. Sucedeu isso na semana transata com o reitor da Universidade de Lisboa quando se fez porta-voz da contestação ao Governo a propósito das cativações orçamentais decididas por Mário Centeno e estamos a ver a mesma coisa com os militares que se mantiveram calados durante quatro anos ao desprezo a que, então, foram sujeitos, e agora contestam uma violação flagrante de um dos seus quanto a um dos mais importantes requisitos constitucionais: a não discriminação de quem quer que seja por aquilo que é a sua identidade.
Infelizmente vem do Largo do Rato um silêncio incompreensível. Nesta altura o PS deveria estar a assumir uma «abstenção violenta» ao novo rumo profissional de Maria Luís Albuquerque, apostando na defesa do princípio de nem sempre legalidade e legitimidade coincidirem. Deveria confrontar Passos Coelho com o seu papel de administrador nas empresas de Ilídio Pinho na época em que, comprovadamente, este utilizava os serviços da Mossack Fonseca como subterfugio para fugir aos impostos. Deveria estar a ridicularizar as propostas de Assunção Cristas para o aumento da natalidade em Portugal, demonstrando que não é por falta de tempo ou de erotismo dentro dos casais, que escasseiam crianças, mas apenas porque os pais não sentem na precarização dos seus empregos as condições necessárias e suficientes para uma tão importante decisão para o futuro. Deveria lembrar diariamente os pensionistas e os funcionários públicos, que as reformas estruturais sugeridas pela direita significarão sempre novos cortes nos seus rendimentos.
Quando tudo apontaria para a possibilidade de empurrar a direita para as cordas, os socialistas ainda se comportam como o boxeur que, no ringue, movimenta-se lentamente e encaixa sucessivos golpes, na expectativa de que seja o governo, fora dele, a definir-lhe o resultado do combate.
Os últimos anos demonstraram que a direita não terá o menor escrúpulo em utilizar todos os argumentos para recuperar o poder. É altura do Partido Socialista deixar-se de mesuras e ataca-la com a mesma determinação.
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