Confirmada a derrota de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, quer isto dizer que a esquerda brasileira estará condenada a uma longa travessia no deserto? Não é crível, que tal aconteça. A derrota de hoje prefigurará vitórias futuras mais sólidas do que a conseguida na mais recente eleição presidencial, quando a direita gizou o plano de derrubar Dilma no mais curto prazo possível.
O que lhe era mais fácil concluiu-se esta noite: criar uma dinâmica de rejeição a quem está no poder é fácil, quando o ambiente económico é de recessão, sobretudo quando se conta com uma comunicação social tão viperina como a que diabolizou a Presidenta e Lula nos últimos meses.
No entanto os problemas começarão de imediato com a partilha das lentilhas entre os que comemoram hoje a vitória, tendo em conta que elas estão seriamente a reduzir-se no dia-a-dia. E não é por invocarem angélicas declarações de fé na Democracia e na probidade dos seus membros, que os golpistas de hoje deixarão de ser tão corruptos como se têm revelado até aqui.
Atirado para a oposição, o Partido dos Trabalhadores terá sempre o movimento sindical e popular para contestar nas ruas o imediato corte dos apoios sociais promovidos por Lula nos seus dois mandatos. A luta pela reviravolta dos acontecimentos começa de imediato.
A luta de classes vai agudizar-se nas próximas semanas e meses até tornar ingovernável a solução dos que agora trataram de apear Dilma. E porque há bastante mais marés que marinheiros, a que agora a varre, é a que, a seguir arrastará consigo os momentâneos vencedores.
Para o PT esta situação até poderá revelar-se bastante vantajosa, porque permitir-lhe-á libertar-se dos compromissos contranatura firmados com forças políticas com que não possuía qualquer identidade nos valores e nos princípios, mas compradas para que o seu voto possibilitasse a exequibilidade das políticas sociais pretendidas.
Esperemos que Lula e Dilma compreendam que convergir com gente pouco fiável capaz de trair à primeira ocasião teve um custo demasiado elevado para que deva ser repetido. Na preparação para regressar ao governo o PT deverá ser consistentemente o partido de esquerda que, nos últimos tempos, e em função das circunstâncias, se esqueceu de ser...
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