Algo de novo está a passar-se em França com o surgimento do movimento “Nuit debout”. Porque quando tudo apontava para uma provável vitória da direita nas presidenciais do próximo ano, são os jovens quem conquistam a rua e começam a fazer-se ouvir num protesto cada vez mais ensurdecedor. De repente surgem muitas dúvidas sobre vencedores anunciados, mormente sobre a capacidade de regeneração dos socialistas e dos seus potenciais parceiros à esquerda.
Essa mobilização decorre do desemprego larvar, que faz desesperar essa juventude, ciente de nenhuma das promessas de Hollande ou de Valls terem sido cumpridas. Pelo contrário, é essa mesma geração quem rejeita com maior indignação a proposta de retirar a nacionalidade aos suspeitos de terrorismo, que constitui exemplo revelador das sucessivas traições do suposto governo socialista aos valores fundamentais da República. O copo já cheio trasvazou com a nova lei do trabalho, que promete ainda maior precarização para quem tiver a sorte de satisfazer o direito a um emprego.
A leitura feita pelos contestatários é esta: já que qualquer governo eleito com as atuais regras ditas democráticas acaba sempre por subalternizar os interesses dos cidadãos, não será altura de mudar de sistema político?
A vitória de Jeremy Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista inglês demonstrou a exequibilidade de tornar possível o almejado revigoramento da esquerda se a opção passar pelo escrutínio dos militantes e, sobretudo, dos simpatizantes em eleições primárias. Mas os líderes do novo movimento também estão atentos ao exemplo grego onde Tsipras perdeu momentaneamente o combate contra as instituições e certos figurões, que sempre intentam reduzir o pluralismo, quando ele se torna demasiado incómodo.
Será muito interessante acompanhar este novo movimento, porque ele parece muito determinado a recorrer às estratégias bem sucedidas, que têm feito de Bernie Sanders um candidato surpresa à Casa Branca, mas também a não se distraírem do carácter maligno hoje assumido por grande parte dos atores radicados em Bruxelas, Frankfurt ou Estrasburgo. Contra os quais há que afinar a pontaria...
Sem comentários:
Enviar um comentário