Há muitas diferenças entre o Brasil e Portugal, mas o que se vem passando no país de Lula e de Dilma, deve merecer-nos a devida atenção, porque, a exemplo do comportamento do juiz Sérgio Moro, que tem similitudes com os assumidos pelo procurador da Operação Marquês, a estratégia política da direita assume contornos de uma invariabilidade tão pouco imaginativa, quanto paradoxalmente eficaz.
Voltemos a 2013, quando o Brasil foi agitado por uma vaga de manifestações de rua contra os aumentos dos transportes. A interpretação de então foi esta: aqueles que Lula conseguira resgatar da pobreza já não se contentavam com quanto tinham conquistado e vinham para a rua exigir uma maior distribuição dos rendimentos. Aparentemente era uma luta política que se assumia à esquerda do governo de Dilma. Mas, se essa era a verdade, e muitos dos que constituíam a base social de apoio do PT interpretaram esse movimento social como um avanço, não previram a forte probabilidade de vir a ser recuperado pela direita para nele alavancar a contestação a quem sempre odiou.
Anda agora nos escaparates das livrarias um livro de Paulo Guinote a lembrar a luta dos professores contra o governo de José Sócrates persistindo na legitimidade de tais protestos. No entanto seria interessante, que o autor e quantos então deram prova da sua capacidade de mobilização, equacionassem até que ponto a vitória de Passos Coelho três anos depois, não deveu muito a essa exposição da fraqueza de um governo a contas com o que andava então a passar-se com a crise dos subprime. E, como isso significou depois para milhares de professores a perda de emprego e a redução de rendimentos e direitos laborais?
É por isso, que a esquerda, atualmente concertada no apoio a este governo, terá de ser muito cautelosa com os movimentos reivindicativos dos próximos tempos. Porque é muito fácil exigir direitos e regalias, mas quantas vezes, isso pode dar o ensejo para que os já conquistadas possam ser postas em causa.
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