Discordo totalmente dos que costumam elogiar a sapiência dos eleitores, quando vão votar: os resultados das legislativas de domingo são o melhor exemplo da atitude incompreensível de muitos milhares de pessoas, que sentiram na pele e nos bolsos os efeitos do fanatismo neoliberal de passos coelho e de portas e deixaram-se embalar pelas histórias primorosamente contadas pelos “lobos maus” disfarçados de “avozinhas”.
Eu sei que é muito difícil resistir às falsas notícias plantadas nos jornais por hábeis spin doctors ou aos comentários sem qualquer isenção de mercenários contratados para debitarem nas televisões as mensagens destinadas a facilitar a ânsia dos mais endinheirados em que as coisas continuem a ser como são.
Num artigo recente no «Público», o jornalista José Vítor Malheiros lembrava aquela pergunta de Einstein a respeito dos militares do seu tempo, que nem sequer questionavam as consequências dos seus gestos potencialmente apocalíticos: “por que razão têm estas pessoas um cérebro, quando uma simples medula espinal seria suficiente para as suas necessidades?”
Infelizmente, no domingo passado, pudemos comprovar a completa inutilidade do cérebro em muita gente, que só o parece ter para garantir a forma canónica ao seu aspeto facial.
O desafio, que se coloca a quem deseja a transformação deste estado das coisas, é ponderar no tipo de estímulos necessários para fazer tais cérebros saírem da sua preguiçosa letargia e pensarem autonomamente começando por refutar os embustes a que têm sido tão permeáveis até aqui.
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