São várias as vozes, que apontam para a possibilidade de um governo, apoiado na maioria parlamentar de esquerda, constituir um efeito capaz de extravasar as fronteiras lusas e impulsionar dinâmicas similares em países onde está mais avançada a reflexão sobre o impasse ideológico, que vem tolhendo os partidos socialistas, trabalhistas e sociais-democratas.
Perante o progressivo divórcio entre o regime de Viktor Orban e o seu eleitorado, ao mesmo tempo que um governo similar irá ser sujeito ao teste da governação na Polónia, cabendo-lhe idêntica sina, é urgente uma resposta eficaz das esquerdas europeias, capaz de acolher os desiludidos das várias propostas populistas. Porque a cristalizada alternativa austericida personificado em schäuble vai-se esgotando à medida, que fracassam as perspetivas de conduzirem os elos mais fracos do euro ao equilíbrio orçamental.
Não foi preciso, que surgissem fluxos ininterruptos de refugiados para que a Europa se visse a contas com a obrigatória ponderação do que quer ou não ser. E a radicalização de muitos dos seus povos para as esquerdas é um fenómeno novo, que só poderá crescer. Sobretudo se, falhada a alternativa grega, a que vier a ocorrer em Portugal - e quiçá em Espanha! - dê fundamentadas esperanças a quem quer ver cumpridas as expetativas alimentadas pelos pais do projeto europeu.
2. Um dos países onde tudo mudou nas últimas semanas foi no Reino Unido onde Jeremy Corbyn conseguiu 59,5% dos votos logo à primeira volta das eleições para a liderança do Partido Trabalhista, deixando o seu principal rival a 40 pontos de distância.
Curiosamente ele beneficiou de uma alteração estatutária, que os blairistas inventaram como forma de atenuar a importância dos sindicatos na escolha do seu líder: as eleições primárias abertas a simpatizantes dispostos a pagarem uma contribuição para o Partido como requisito para terem direito ao voto. Julgavam, erradamente, que os militantes estariam mais à esquerda do que os novos votantes, quando foi, precisamente o contrário do que aconteceu.
Curiosamente esse fora, igualmente, o erro de cálculo de António José Seguro ao convocar eleições primárias para a eleição do secretário-geral do PS em setembro de 2014.
Se essa eleição fosse circunscrita aos militantes teria, porventura, sido muito mais equilibrada, mesmo que favorecendo inequivocamente António Costa. Quem andou, na recente campanha eleitoral, a distribuir materiais de propaganda nas ruas, foi confrontado, amiúde, com questões quanto ao que seria necessário para a união das esquerdas. Os que afiançam não ter sido essa a vontade do eleitorado, que votou no Partido Socialista não sabe do que está a falar.
Em Inglaterra a viragem à esquerda foi evidente: os jovens condenados a empregos degradados e a arrendamentos proibitivos, juntaram-se aos ativistas antiguerra - que organizaram manifestações com dois milhões de pessoas em 2003 e passaram a odiar Blair! - e ao mundo sindical para expurgar a direção do Partido dos seus elementos mais conservadores. A maioria dos deputados na Câmara dos Comuns passou a a representar a face mais conservadora e minoritária do trabalhismo atual.
Agora, segundo o jornalista Alex Nunns, “para ter êxito, Corbyn vai ter de transformar o Labour numa força militante capaz de manter o incrível sobressalto coletivo que o propulsou para a liderança. Se a excitação gerada nestes últimos meses se propagar a outros setores da população e a aventura prosseguir o seu caminho, Corbyn tem todas as possibilidades de vir a ser bem sucedido”. E a juntar forças a António Costa...
Sem comentários:
Enviar um comentário