Na campanha eleitoral António Costa foi muito claro quanto à intenção de não viabilizar um orçamento da coligação de direita depois das eleições.
Na última semana antes da eleição, passos e portas invocaram repetidamente essa frase como prenúncio do perigo de um eventual governo de esquerda.
Faz então algum sentido, que quer eles, quer durão barroso, quer os seguristas, invoquem o desconhecimento dos eleitores socialistas quanto a essa possibilidade? Claro que não! Porque todos eles preferem acabar com a governação da direita do que intimidarem-se com divergências de há quarenta anos...
Nestes últimos dias os diversos Dupond & Dupont têm andado pelas diversas televisões a asseverarem a “legitimidade” da formação de um novo governo de passos coelho, mesmo que condenado a ser rejeitado pela maioria parlamentar de esquerda. E, porque os dias vão passando sem que o PS dê mostras de se curvar ao diktat das suas vontades, não tardarão a avançar com uma nova cartada: a do agravamento do comportamento dos mercados devido à indefinição da situação política e, muito particularmente, à impossibilidade de haver um orçamento em tempo útil para 2016.
Culpado? É claro que as miras das suas espingardas apontarão para António Costa!
E, no entanto, a culpa vai inteirinha para cavaco silva, que foi sucessivamente avisado dos riscos de adiar as eleições para setembro, quando a questão orçamental se iria colocar.
Nunca saberemos quem terá convencido o ainda inquilino de Belém a evitar a consulta aos eleitores para o final da Primavera. Mas não é difícil apontar para os suspeitos mais prováveis: nessa altura o PS liderava as sondagens e os marketeiros da direita ainda não tinham aprontado o Portugal “em franca recuperação económica e com mais emprego”, que se viria a “revelar” no final do verão. Era-lhes, por isso mesmo crucial fazerem coincidir o ato eleitoral com o momento culminante de toda a engenharia propagandística passível de lhes garantir o sucesso.
Mascarar a realidade com falsos estágios e jogar com os indicadores económicos através de artifícios financeiros (como por exemplo atrasando a devolução do IVA às empresas) requeria umas semanas, que cavaco facultou à coligação sem qualquer escrúpulo.
Como se viu, quase o conseguiram, até por terem contado com a colaboração ativa da maioria dos jornais, rádios e televisões, sempre lestos a secundarizarem as más notícias para a direita e a darem títulos de primeira página para as supostas inabilidades da campanha socialista. E nunca os comunistas e os bloquistas mereceram tanta deferência de tais órgãos de (des)informação.
Quem internamente tenta apear António Costa, acusando-o de incompetência perante tal rolo compressor da propaganda adversária só revela uma tremenda desonestidade, que só não espanta por já se conhecer bem demais o comportamento crapuloso dos derrotados nas Primárias de há um ano.
Quer o secretário-geral, quer os militantes e simpatizantes socialistas, desenvolveram uma campanha entusiástica, mesmo que limitada pelos exíguos recursos financeiros investidos, já que do legado de António José Seguro incluía-se o enorme buraco nas contas do partido.
Ao contrário do que os seus opositores vêm querendo fazer acreditar, António Costa tem revelado uma enorme inteligência na forma como tem conseguido gerir os acontecimentos antes e depois das eleições, transformando uma aparente derrota numa vitória, que não pode ser classificada como provindo da secretária. É que a Constituição é muito clara quanto à exigência de maioria parlamentar como garantia de governabilidade...
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