quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A guerra é a guerra!

1. A atual crise dos refugiados está a pôr em causa alguns dos principais valores europeus, que serviam de alibi moral à vertente abertamente económica e financeira subjacente ao projeto comunitário.
A existência de diversos governos de extrema-direita no leste-europeu demonstra como se tiveram as cautelas necessárias relativamente às pretensões turcas, mas quase nenhumas em relação aos regimes saídos da implosão do Pacto de Varsóvia.
Não deixa de ser irónico, mas igualmente trágico, que o crepúsculo político de angela merkel decorra das opções mais decentes por ela reveladas ao longo da sua governação. Embora não seja de excluir que visse no afluxo de refugiados, a resposta para a crise demográfica da Alemanha, ela terá sido demasiado audaz para muitos dos que nela votaram anteriormente e que a passaram a contestar.
Valerá o facto de não se lhe vislumbrar sucessor capaz de a desafiar no imediato, mas esperemos que o advento de novos governos de esquerda no sul da Europa alente os sociais-democratas alemães a seguirem a mesma orientação e se constituam como muralha poderosa contra os ventos populistas vindos da Hungria, da Polónia da República Checa ou da Eslováquia. Nem que para tal acolham a possibilidade de se aliarem, além dos Verdes, aos até agora proscritos Die Linke.
2. A anunciada apresentação do Acordo de governo dos quatro partidos da esquerda parlamentar só para o dia da apresentação e votação das moções de rejeição satisfaz a prudência que se justifica perante a estratégia da coligação de direita para tudo fazer no sentido de evitar a discussão do seu desconhecido programa.
Conhecer o tipo de direita, que passou a caracterizar o PSD e o CDS, é fundamental para que não se repitam os erros da campanha eleitoral, quando António Costa apostou na seriedade de dar a conhecer as propostas socialistas devidamente quantificadas nos seus custos e receitas, e viu depois completamente sabotada essa prova de boa-fé ao sujeitar-se à manipulação e descarada mentira em torno de medidas específicas, que não significavam o que lhes pretendiam associar.
Mas o PS ainda tem de aprender mais algumas lições como se depreende da votação para as vice-presidências da Assembleia da República: o resultado, que atribuiu a Jorge Lacão o número de votos mais baixo denuncia a falta de reciprocidade da direita à complacência da esquerda para com os seus nomes. É que foi notória a votação dos deputados da esquerda nos nomes apresentados pela direita, mas o contrário não aconteceu.
Estamos numa legislatura em que não há espaço para sorrisos e abraços: os campos estão bem estratificados e quem disso se esquecer estará condenado a sofrer abalos na sua boa consciência…
3. É claro que José Sócrates já não vai a tempo de evitar o assassinato político a que foi sujeito anos a fio pelas publicações do grupo Cofina. E por isso mesmo os 350 mil euros pedidos de indemnização por cada notícia futura sobre ele publicada nos jornais e revistas do grupo até constituiriam uma forma de compensação pela deturpação do que é a liberdade de informação.
Infelizmente a juíza, que subscreveu a providência cautelar não apoiou a pretensão da defesa, mas esperamos ver no futuro a Justiça ressarcir devidamente o antigo primeiro-ministro pelos danos sofridos na sua reputação.

Sem comentários:

Enviar um comentário