Julgávamos outra a causa, mas a passagem do ministro pires de lima pelo programa dos Gatos Fedorentos na TVI serviu para “perceber”, que as suas cenas patéticas na Assembleia da República, a falar de “taaaaxas” e “taaaxiiiinhas” tinham a ver com os seus hábitos de bebedor de “compal pêra”.
Desde então, sempre que ele aparece na televisão, logo nos questionamos qual a quantidade de tal refrigerante que ele bebido nesse dia.
Foi o que aconteceu ontem, quando apareceu todo pimpão nos telejornais a insurgir-se contra o facto de partidos com apenas 10% dos votos - o PCP e o Bloco - poderem formar governo com o Partido Socialista.
A reação imediata foi pensar: ele não se está a medir, porque voltou a abusar do “compal pêra”? Porque, de facto, qual a percentagem efetiva do CDS, que justifique a presença de portas e seus apaniguados no Governo?
Para sermos bondosos poderíamos pensar que os deputados conseguidos o colocam com a mesma percentagem do que os dois partidos, que pires de lima quer ostracizar. Mas, se pensarmos que, se não fossem as características do método de Hondt a privilegiar os partidos associados em coligações, o CDS contaria hoje com bem menos deputados. Se não tivesse sido reduzido à dimensão do táxi, não passaria, porém, da lotação de dois.
Então como explicar a indignação de pires de lima? Desta feita, somos capazes de considerar que a explicação do costume não serve, porque outra mais pertinente se coloca: a de uma forma airosa da direita em fazer propaganda, que consiste em criticar nos outros aquelas que são as suas práticas.
Isso esteve bem evidente na campanha eleitoral e conseguiu iludir muitos incautos, quando o PS não venceu a avalanche de mentiras debitadas por passos & Cª sobre factos de uma evidência aparentemente indiscutível, mas que eles viravam do avesso e fizeram crer de origem socialista.
Dois exemplos bastam para demonstrar essa estratégia propagandística da direita.
O primeiro tem a ver com quem trouxe a troika para Portugal. Ora, se ficou bem na memória coletiva o chumbo do PEC IV, que fez cair o governo de José Sócrates, ainda entrou bem no imaginário coletivo dos eleitores a falsa ideia de ter sido o antigo primeiro-ministro a querer tal solução. Quando, na verdade, não houve quem mais procurasse travá-la…
O segundo exemplo tem a ver com os cortes na Segurança Social. À partida a coligação estava em maus lençóis com a explicita intenção de cortar 600 milhões nas pensões, num total de 2400 milhões em quatro anos. O que aconteceu? Foi o PS quem foi encostado às cordas com a falsa impressão de também prever cortes de mais de mil milhões no mesmo período. E até Catarina Martins, que sabia estar a utilizar um argumento intelectualmente desonesto, amplificou o coro dos comentadores televisivos, quando afinal essa valor corresponderia à poupança do Governo socialista nos apoios sociais, tendo em conta que a dopagem nos rendimentos das famílias iria gerar um crescimento, capaz de diminuir significativamente o desemprego, e torna-los desnecessários.
A esquerda tem de aprender com as suas fragilidades a começar pela importância de contestar ativamente e com o máximo de ruído possível todas as falácias oriundas do campo contrário. Porque, na prática, basta utilizar o velho método socrático das perguntas sofistas. Quando ouvimos um discurso de passos & Cª vale a pena estar continuamente a questioná-lo, virando-o ao contrário, cientes de encontrar na subsequente resposta a verdade factual.
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