Acontece a muitos: à medida que os anos se vão acumulando nos ossos, o envelhecimento acelera-se muito para além do que diz o Bilhete de Identidade. Dessa forma em vez de se tornarem simplesmente velhos, começam a aproximar-se seriamente da condição de trogloditas.
Infelizmente é isso que vamos constatando, há uns tempos a esta parte, com Sérgio Sousa Pinto.
No tempo de Guterres como primeiro-ministro, quantos o imaginaram a ser um potencial secretário-geral num futuro mais ou menos distante. A veemência com que liderava a Juventude Socialista e a fazia contrariar a direção do partido nas causas fraturantes, davam-lhe a aparência de ser capaz de antecipar o futuro e nele deixar a marca de uma aceleração nas dinâmicas anunciadas previamente por alguns grupos sociais ainda minoritários.
As duas décadas entretanto decorridas demonstraram, que essas capacidades eram mera ilusão: as rugas e os cabelos brancos em vez de constituírem a patine da sapiência significaram, afinal, o enferrujamento na sua visão do mundo.
Hoje, quando o vemos elogiar Churchill em detrimento de Atlee por este lhe ter ganho as eleições britânicas logo após a guerra, ou quando desconsidera António Sampaio da Nóvoa em proveito de uma visão, que se limita a classificar de inserida numa suposta tradição da 1ª República (o que quererá, de facto, dizer com isso, já que foram muitas as tendências do campo republicano nesses dezasseis anos da nossa História?), podemos compreender o seu incómodo por ver António Costa rejeitar a lógica bafienta do suposto «arco da governação» e encara como possível - mesmo que difícil! - a hipótese de uma coligação efetiva de toda a esquerda parlamentar.
É singular como a contradição entre evocar para tal a manifestação da Alameda Afonso Henriques em 1975 como argumento falacioso para defender a sua decisão de sair do Secretariado do PS enquanto o grande protagonista de então - o venerável Mário Soares - avaliza e apoia esta estratégia de António Costa.
Pode-se pois considerar que, hoje, mesmo nonagenário, o fundador do PS está mais jovem do que o embolorado Sérgio Sousa Pinto.
Mas, como muito bem assinalava Daniel Oliveira esta madrugada, é muito curioso que a generalidade da comunicação social dê tanta importância à posição de Sérgio Sousa Pinto e ignore as declarações de Ferro Rodrigues em prol da maioria de esquerda traduzida num governo viável para os próximos quatro anos. Como se o antigo secretário-geral do PS fosse figura menor no partido em comparação com aquele que se limitou a liderar a JS há duas décadas e fez depois carreira no Parlamento Europeu ou na Assembleia da República sem nada se destacar na sua ação política.
A direita, que detém quase todos os meios de comunicação social sabe bem quem favorece os seus desígnios e Sérgio Sousa Pinto, agora, e Maria de Belém na terça-feira estão transformados em idiotas úteis, ou cúmplices voluntários, de quem não vê para Portugal outro rumo que não seja o rumo austericida, que tem conhecido nestes últimos quatro anos.
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