Uma das falácias, que anda a ser propalada pelos paineleiros do costume, é a de haver uma maior diferença ideológica entre o PS e os partidos à sua esquerda do que relativamente ao PSD e ao CDS. Alguns - como sucedeu com o idiota, que costuma comentar a atualidade com Ricardo Araújo Pereira e Pedro Mexia na TVI24 - até têm o despudor de assinalar uma quase similitude entre o programa do PS e o do partido do Paulo Portas.
Como socialista considero execrável essa forma de ”namoro”, que começou logo na noite das eleições, quando o PS deixou de ser a fonte de todos os males e voltou a ser o tal partido europeísta com quem se deve “negociar”.
Mas de que negociação falamos? Da que pretende impor mais 600 milhões de euros em cortes nas pensões dos reformados? Da que intentará impor o plafonamento dos descontos para a Segurança Social para a sua entrega próxima aos fundos de investimentos financeiros? Da que quererá levar até ao seu termo a lógica de privatizar tudo quanto ainda subsiste na mão do Estado, nomeadamente a Caixa Geral de Depósitos e o que resta do sector das águas e saneamento?
Não! As maiores divergências ideológicas entre o PS e os partidos que se colocam à sua esquerda e à sua direita, têm muito mais a ver com o que diz respeito ao Estado Social, nomeadamente na defesa da educação e da saúde públicas.
Por isso será judicioso, que a nova Assembleia aprove, de imediato, comissões parlamentares para compreender que tipo de compensações para os partidos do poder, ou para alguns dos seus filiados, terá justificado o aumento da subsidiarização de turmas em colégios privados ou a entrega das responsabilidades constitucionais do Estado quanto à saúde ás Misericórdias.
Não vislumbro em tais exemplos, que haja grandes divergências entre o PS e os partidos à sua esquerda. Como as não vejo em todas as propostas contidas no programa do PS, que impliquem incentivos à criação de emprego digno e estável através de discriminação fiscal contra quem usa e abusa dos empregos precários.
Como dizia António Costa na campanha eleitoral “nós não somos iguais a eles!” e por isso mesmo, apesar de assegurarmos a abstenção quanto à aprovação do Programa e do Orçamento de Estado para 2016 - que sabemos bem serem documentos meramente formais para a coligação, porquanto sempre teve de recorrer aos Orçamentos Retificativos - no que dirá respeito ao exercício quotidiano da actividade parlamentar não poderá haver qualquer sintonia entre o PS e quem considerou ter condições de governabilidade, mesmo perante a rejeição maioritária dos eleitores quanto ás suas políticas.
O «Observador» já surge esta tarde com a possibilidade de a coligação contar com a colaboração ativa dos 15 candidatos seguristas eleitos para a nova Assembleia.
Não seria propriamente uma surpresa, já que essa tendência, ainda sobrevivente dentro do Partido, há muito definiu a sua natureza ideológica e contra a qual a grande maioria dos militantes e simpatizantes mostrou nas Primárias não concordar. Mas essa é uma possibilidade, que apenas tenderá a clarificar um quadro político bastante instável e para o qual o PS liderado por António Costa terá de se preparar com estratégias de curto, médio e longo prazo...
Sem comentários:
Enviar um comentário