Não chego ao exagero de Daniel Oliveira, que confessou a súbita vontade de dar beijos a cavaco silva, quando lhe ouviu o discurso desta semana, mas se houve comentador capaz de criar uma imagem superlativa do significado dessa intervenção foi o insuspeito Pedro Santos Guerreiro, que lembrou a história de Alice no País das Maravilhas para, a partir dela, considerar que cavaco silva “é uma espécie de Rainha de Copas, que pensava em coisas impossíveis pelo menos meia hora por dia. E que às vezes conseguia acreditar em seis delas antes do pequeno-almoço.”
Ficámos, assim, com uma direita definitivamente convencida do inevitável termo do seu projeto austericida para o país. À exceção de alguns estarolas da estirpe do “ historiador” rui ramos ou do mentecapto nuno melo, foi difícil encontrar quem, mesmo no seu seio, conseguisse mostrar entusiasmo pelas palavras do ainda presidente.
Coloca-se, agora, a questão da duração ou não do governo de gestão, que passos coelho liderará enquanto não vier de Belém a indigitação de António Costa. Se, como alguns aventam, cavaco silva preferirá o caos financeiro a ter de empossar um governo de esquerda, poderá encontrar oposição no próprio partido. É que, segundo a normalmente bem informada Luísa Meireles, na rua Buenos Aires há quem tema tal “solução”: “Um governo de gestão prolongado no tempo - um verdadeiro cenário de terror para alguns, já que será ter o ónus sem ter os instrumentos da governação.”
Mas existe, igualmente, a noção de já sobrar quem faça contas sobre a durabilidade da coligação da direita. Outros dois jornalistas do “Expresso”, Ângela Silva e Filipe Santos Costa, garantem-lhe existência enquanto perdurar a ilusão de um estampanço de António Costa: “Se cheirar a poder, a coligação não se desfaz. E “cheira” a maioria absoluta. Se, ao contrário, um governo de esquerda se aguentar, não é líquido que PSD e CDS resistam à prova do tempo.”
Um conselheiro de paulo portas é lapidar quanto a essa durabilidade: “Até um ano aguenta-se. Mais do que isso torna-se desgastante.”
Como aqui tenho dito, se António Costa confirmar a habilidade em fazer consensos, tornando sustentável a expressão governativa da maioria das esquerdas, podemos estar no início de um ciclo histórico em que a direita poderá mostrar o que significa um processo político de autofagia.
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