Rebentar as algemas mediáticas é uma das principais tarefas políticas, que Serge Halimi nos recomenda com maior urgência para os tempos, que se anunciam.
A pertinência dessa chamada de atenção é tanto mais evidente, quando ainda agora concluímos um processo eleitoral em que, além de servir de bombo para todos quantos se propunham ganhar votos à esquerda e à direita, o Partido Socialista ainda teve de suportar um persistente e contínuo ataque mediático, quer das televisões, quer dos jornais.
Ao contrário do que, oportunisticamente, procuram demonstrar os que contestam António Costa, não haveria quem pudesse fazer melhor performance, face a uma barragem de notícias sistematicamente depreciativas sobre a campanha do PS.
Olhando para trás teria sido assim tão grave o caso dos cartazes ou ele foi exemplo lapidar de um tipo de erro, que ganhou injustificada dimensão a partir de uma torrente de críticas, que calaram a substância do que neles se denunciava? E quando António Costa anunciou não viabilizar um futuro orçamento de um governo de direita, porque acreditava ganhar as eleições, quantos ouviram a segunda parte da frase, que andou a servir de arma de arremesso dias a frio contra a campanha socialista?
É por isso que o texto de Halimi na edição portuguesa deste mês do jornal «Le Monde Diplomatique» faz todo o sentido. Porque concordamos com ele, quando reconhecemos como obstáculos bem identificados de qualquer governo de esquerda os mercados financeiros, as multinacionais , as agências de rating, o Eurogrupo, o FMI, o BCE e a política monetarista do sr. schäuble e dos seus aduladores sociais-liberais. Mas falta-nos a identificação do travão colocado ás nossas aspirações democráticas pelo “aperfeiçoamento das algemas mediáticas suscetíveis de desqualificar qualquer projeto contrário ao poder dos acionistas” nesses jornais, rádios e televisões. Os tais, que são, igualmente, os “arquitetos das concentrações industriais e os beneficiários de gigantescas capitalizações bolsistas”.
Ainda recentemente a Grécia demonstrou até onde podem ir essas algemas mediáticas ao impedirem os povos europeus de verem na vitória do Syriza a vanguarda de um combate europeu contra a falhada política de austeridade. Meses a fio apresentaram-nos contas sobre quanto pagaríamos nos impostos para suportar a reestruturação da dívida grega. E, no entanto, quantos deram pelo facto de, a 27 de agosto, os credores ocidentais terem perdoado uma parte substancial da dívida ucraniana sem que o mesmo tipo de contas nos aparecesse feito?
É por isso que Serge Halimi considera que “não fazer o combate contra o sistema de informação dominante constitui um erro de cálculo” de uma enorme gravidade. Porque muito do que serão as sociedades em que viveremos nos próximos anos dependerá do tipo de informação e de desinformação, que nos forem servidas nos medias do presente.
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