sábado, 31 de outubro de 2015

Um Presidente para o futuro que se fez presente

O que a História tem de mais exaltante é a frequência com que sai do ramerrão em que a querem estreitar - sobretudo os mais interessados em que as coisas continuem a ser como são! - e nos vem confrontar com o que é novo, com o que se dizia inviável. Daí a lucidez dos que, em maio de 68, anunciavam ser realistas, porque só exigiam o impossível. Algo que os anos seguintes se encarregaram de contemplar de muitas e variadas maneiras.
Caminhantes, que somos do nosso caminho - como constatava o poeta espanhol António Machado - a História vive muito do nosso andar, mas também daquele para que, de vez em quando, nos empurra mais bruscamente.
O que está a acontecer na nossa vida política por estes dias já levou alguns a interpretarem-no como um terramoto. Exageros óbvios de quem imita os gauleses temerosos de sentirem o céu cair-lhes sobre as cabeças!
Mas é um facto que anda por aí muita gente atordoada, porque o futuro veio anunciar-se-lhes e não estavam preparadas para o receber. E ele vem mudar tudo, nomeadamente no que diz respeito às eleições presidenciais, que andam quase esquecidas nos jornais e televisões. O que não admira: tirando os casos específicos de Edgar Silva e de Marisa Matias, que se inscrevem na lógica dos respetivos partidos utilizarem todos os altifalantes disponíveis para propagandearem as suas perspetivas políticas, só existem três candidaturas potencialmente vencedoras no terreno. E são elas a verem-se agora testadas pelo crivo desse futuro, que virou de pantanas os equilíbrios políticos cristalizados até aqui.
Que consonância tem Marcelo Rebelo de Sousa e Maria de Belém com esse tal futuro em que não conseguem caber?
Nunca conhecemos uma única ideia de futuro ao antigo comentador da TVI. Os seus méritos têm a ver com uma longa carreira académica, uma breve liderança política que correu mal, e algumas candidaturas concretizadas ou prometidas a eleições onde foi derrotado ou se sentiu antecipadamente perdedor, pelo que não chegou a concorrer.
Com alguma habilidade no jogo da intriga política não se lhe reconhecem qualidades bastantes para ser o presidente de que carecem hoje os portugueses. Não é por ser deles conhecido - e até lhes suscitar alguma simpatia! - que possui a independência dos partidos exigível para a nova fase histórica em que acabámos de entrar e em que o Presidente deverá ter a integridade e a lucidez necessárias para ser o fiel da balança sempre que tal se justificar.
Quanto à candidatura de Maria de Belém os motivos que a desqualificam são igualmente significativos: se nem dentro do Partido Socialista conseguiu ser uma presidente consensual, pendendo indisfarçavelmente para um dos lados, quando se colocou a questão das Primárias entre Seguro e Costa, como o conseguiria ser agora se, eventualmente, chegasse a Belém?
Mas o que de mais grave se associa à sua candidatura é o passado lobista, já que nunca viu qualquer problema entre o concomitante exercício de cargos políticos com outros de administração em grupos económicos da área da Banca e da Saúde.
Quando alguém é incapaz de ver os perigos de tal promiscuidade, terá alguma vez condições éticas para o exercício de funções, que as exigem acima de qualquer suspeita?
É assim que chegamos à candidatura de António Sampaio da Nóvoa. O único dos candidatos a falar abertamente do futuro do país e da importância de o conquistarmos com base no crescimento e no conhecimento. A Visão capaz de congregar a vontade dos milhões de eleitores, que votaram contra o rumo suicida assumido nestes últimos quatro anos.
Perante este mesmo futuro, que se veio anunciar sob a forma da convergência de vontades das esquerdas, Sampaio da Nóvoa é quem possui o carácter e a sapiência exigíveis para acelerar o andamento por tal caminho.

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