No «Público» de hoje surgem duas abordagens da atual situação do Partido Socialista, uma assinada por António Galamba em defesa de António José Seguro e a outra da autoria de Pedro Delgado Alves pelos que apoiam António Costa.
Basta a comparação entre os dois textos para ficarmos esclarecidos quanto à pobreza de argumentos do primeiro face à clareza e perspicácia do segundo.
Abordemo-los separadamente, principiando com o primeiro e deixando o segundo para abordagem posterior!
Que é que nos diz então o ainda secretário nacional recentemente notabilizado por torpe ameaça ao seu homónimo João?
Segundo ele existe uma coligação de interesses externos e internos unidos contra AJS. Quem são não no-lo diz, mas presume-se que exista um clima conspirativo a juntar esses “interesses” para que o ainda líder do Partido não concretize a sua versão cinzenta dos amanhãs que cantam.
António Galamba não parece compreender que na sua insignificância política, ninguém fora do PS tenha dado qualquer importância a Seguro nestes três anos, exatamente ao contrário dos militantes que têm redobrado em paciência para o dia de são nunca à tarde em que esperavam ver o seu secretário-geral a não parecer-se apenas com um detentor desse cargo, mas a sê-lo efetivamente com determinação, carisma e substância.
Na mesma lógica de somar generalidades e subentendidos, agora sobre a existência de uma nostalgia cujos parâmetros não define, António Galamba revela-se um fiel discípulo de Assunção Ribeiro que, antes de ir tratar da vidinha para a Coreia, ficara conhecido por textos tão presunçosos quanto recheados de fórmulas ocas: “Este bloco central de nostalgia quer perceber que a recuperação da confiança dos cidadãos na política é um processo que não se consegue com mais do mesmo, com subserviência os interesses ou com mimetismos passados ou presentes de soluções pretensamente fáceis, sem coerência e sem sustentabilidade”.
Haverá quem compreenda este chorrilho palavroso sem nada de consistente? Quem o conseguir que nos ajude a traduzir isto para algo de concreto!
Mas bem se esforça por inventar uma suposta reforma do Parlamento que, sinceramente, só ele deve ter visto: “António José Seguro concretizou no passado a reforma do Parlamento que muitos diziam impossível de fazer e que reforçou o escrutínio da atividade do governo e os direitos das oposições.”
Vem depois a proposta populista e vergonhosa de redução do número de deputados, com que AJS tenta aliciar a cultura de taxista, que julga preponderante nos militantes e simpatizantes do Partido atribuindo-lhes um atestado de menoridade mental bem esclarecedor sobre o que ideologicamente lhe vai na alma.
Diz António Galamba ser essa a resposta a um imobilismo, que explicaria o distanciamento dos eleitores em relação aos partidos já presente na tentativa de resposta de AJS através do compromisso em não prometer mais do que possa fazer.
Compreende-se que o ainda secretário-geral seja modesto nas promessas - muito embora aqui e ali jure acabar com os sem abrigo de Lisboa em três tempos ou não tenha pejo em prometer aos reformados a rápida reposição do que a Direita já lhes espoliou. É que, sem outro projeto que não seja prosseguir o cumprimento escrupuloso do Tratado Orçamental ainda que com menos austeridade - como se houvesse nisso alguma compatibilidade! - Seguro nada mais permite crer ao eleitorado do que imitar passos coelho em navegar à vista e igualmente subserviente aos ditames dos credores.
E conclui na mesma lógica enfática, mas literalmente vazia, que não aduzindo nenhum argumento consistente em concreto, muito esclarece sobre o tipo de gente que teima em se julgar à altura para liderar o maior partido português: “Quando alguns apostam em minar o processo de recuperação da confiança dos portugueses no PS, na política e nos políticos, é tempo de redobrar os esforços para reformar o sistema político e reafirmar as propostas do Contrato de Confiança para as pessoas e para os territórios. Portugal não precisa de regressos ao passado, precisa de esperança e de futuro, com os pés bem assentes no chão.”
Lendo um texto deste quilate, como contestar alguns comentadores insuspeitos da nossa praça, que dizem olhar para a corte que rodeia António José Seguro e se confessam assustados com tanta mediocridade e desvario?
Os Antónios Galambas que rodeiam Seguro não aprenderam nada com as eleições europeias. E confirmam a regra de não existir pior cego do que quem não quer verdadeiramente ver!
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