segunda-feira, 16 de junho de 2014

As diferenças abissais que distinguem António Costa de António José Seguro

«Não nos enganemos» é o título do artigo assinado por Pedro Delgado Alves na edição dominical do «Público» para defender as posições dos socialistas, que se reconhecem na candidatura de António Costa ao cargo de secretário-geral.
Depois de constatar os recuos significativos no nosso modelo social pelos que (des)governaram o país durante estes três anos, o deputado logo aponta uma linha de demarcação muito clara entre quem defende Seguro e quem defende Costa: a forma como interpretam as causas da crise. Estes sabem-na provocada por um quadro europeu que dá carta-branca e salvaguarda acriticamente o setor financeiro, que penaliza os países da periferia através de erros sucessivos na gestão da moeda única, tudo embrulhando num receituário neoliberal que retira capacidade fiscalizadora e de investimento ao setor público, enquanto, ao invés, Seguro e os seus apoiantes sempre adotaram a “narrativa esgotada que nos acusa de termos vivido acima das nossas possibilidades”.
Não deixa de ser paradigmática a atitude dos seguristas em acusarem António Costa ligado a “interesses”, que não identificam, para continuarem a prestarem-se a servir os dos setores financeiros particularmente beneficiados com tudo quanto aconteceu desde 2008 e a forma como a Comissão Europeia decidiu atuar.
Daí que, em vez de propor uma versão macia da austeridade, sob a forma de um discurso ambíguo e de  total falta de clareza quanto ao que deve ser feito, “o PS tem de ser claro para pode projetar a confiança necessária à edificação de uma alternativa governativa.”
É o célebre mote, que Pedro Delgado Alves também recorda e segundo o qual se não conseguimos evitar pensar como a direita, estaremos condenados a governar como ela.”
Três erros fatais merecem reparo do autor quanto ao comportamento da  atual direção do Partido Socialista:
· Hesitações em torno da defesa da Constituição, que levaram a que o PS só tardiamente tenha aderido aos pedidos de fiscalização da constitucionalidade dos Orçamentos.” Com esta atitude o PS de Seguro mostrou-se pouco exigente com o cumprimento da Constituição como se não fosse grave a contínua agressão de que ela tem sido alvo pelo (des)governo de passos coelho;
· sinais contraditórios quanto à justa repartição de encargos fiscais, patente na aceitação de uma reforma do IRC que alivia quem menos necessita” demonstrando a predisposição de Seguro para privilegiar os patrões em detrimento de quem trabalha, não o parecendo preocupar o quanto essa benesse  contribuiu para ainda aumentar a já obscena desigualdade na distribuição de rendimentos;
· a ideia de que tem se vincular a um cumprimento escrupuloso do Tratado Orçamental” não se vislumbrando qualquer predisposição de Seguro para empreender as ações políticas necessárias para impor a sua revisão.
Em síntese:  a liderança de AJS deverá ser criticada pela ligeireza com que encara a Constituição e as desigualdades entre os cidadãos, bem como os sinais de se predispor a prosseguir a lógica do «aluno exemplar» perante uma Comissão Europeia que, pelo contrário, deve ser ativamente contestada na forma como tem destruído o ideal comunitário e possibilitado o avanço das extremas-direitas.
Relativamente ao referido Tratado, que a direita já quer fazer prevalecer sobre a nossa Constituição, “temos de questionar as suas fragilidades, sublinhar a sua incompatibilidade com o nosso modelo social e colocar os compromissos para com os cidadãos à frente dessa receita ineficaz e ideologicamente vinculada a um pensamento estranho à esquerda democrática.”
Sem essa atitude inconformada com a lógica do «que tem que ser tem muita força» o país estará condenado á continuação deste ciclo de empobrecimento e de endividamento. Por isso, Pedro Delgado Alves  constata que só “se se exigirmos renegociar o nosso futuro, será possível uma aposta séria e credível nas qualificações e no potencial científico, na modernização da economia, na redução das desigualdades sociais e na criação de um Estado descentralizado, desburocratizado e ao serviço das pessoas.”
Será essa a estratégia mais adequada de mobilização do país para resolver os problemas que tolhem as esperanças dos portugueses quanto a um futuro melhor. No fundo a estratégia que Seguro já demonstrou não saber encarnar e que António Costa propõe levar por diante.
Por isso mesmo, sem nos deixarmos enganar no diagnóstico, nem nas prioridades, devemos exigir a mais rápida eleição do novo secretário-geral através do modelo que já comprovou ser o mais  adequado: o da consulta direta aos militantes. Precisamente aquilo que, por medo já que adivinha como hoje eles pensam, António José Seguro não quer exequibilizar...



Sem comentários:

Enviar um comentário