Se fosse honesto, António José Seguro já teria interiorizado que nunca será primeiro-ministro e constitui um passivo cada vez mais pesado nas contas do Partido Socialista e, sobretudo, dos portugueses.
Mesmo que, por absurdo, vencesse as primárias, a forma como se furtou a um confronto aberto no devido fórum previsto pelos estatutos do Partido - o congresso extraordinário e em eleições diretas no universo dos militantes - já vincou na maioria dos portugueses a sua verdadeira natureza: a do lutador que, desafiado em campo aberto por um rival, andou a adiar ao máximo o confronto e, tanto quanto possível nas condições e no universo, que mais julga convir-lhe.
Quem é que por estes dias não ouviu pessoas comuns, muitas das quais simpatizantes do partido, a afiançar que «se for com o Seguro a liderá-lo» podemos esquecer o voto no PS?
Seguro à frente do PS só significaria a sua pasokização!
Se não estivesse cego pela frustração de ver aproximar-se a olhos vistos a condenação a um anonimato político mais condizente com a sua valia, Seguro leria as palavras esclarecidas de Daniel Sampaio no «Público» e teria a humildade de reconhecer as razões sensatas, que levam o conhecido psiquiatra a apoiar António Costa. Que são as exatamente opostas às que justificariam a penosa continuação da sua liderança no PS.
Se não tivesse chegado ao desespero de se agarrar aos argumentos mais estapafúrdios para adiar o mais possível o inadiável, Seguro conseguiria entender o quão trapaceira parece esta reforma política, que quer confundir o sintoma do abstencionismo eleitoral com as verdadeiras razões desse desapego: a descrença em propostas políticas alternativas, que façam crer num novo rumo, numa nova esperança para o futuro.
A melhor demonstração em como os portugueses estão-se totalmente borrifando para existirem os mesmos ou menos deputados e pretendem sim políticas concretas capazes de gerarem emprego, qualificação e desenvolvimento tecnológico, está na forma como de norte a sul António Costa tem conseguido salas e auditórios a transbordar de militantes e simpatizantes que se fartaram de vez com tanta incompetência na liderança do Partido e decidiram apoiar a sua candidatura à liderança do PS.
Bem pode iludir-se Seguro com o comício na Alfândega do Porto - em que uns dizem ter estado duas mil, outros mil pessoas, numa sala com lotação para 427!. É evidente que Junqueiro, Carneiro e outros barões ameaçados nos seus feudos terão arrebanhado quantos ainda mantém a ilusão quanto às qualidades que Seguro já demonstrou plenamente não ter e assim pretendido convencer as suas hostes de uma força que já não possuem.
A exemplo do célebre comício de Almada de Vasco Gonçalves em 1975, esse comício arrisca-se a ser recordado como a última prova de força de um vencido anunciado. Com a diferença de se ter conservado do general uma imagem digna e determinada, que soube afastar-se do desfasado rumo para onde não pretenderia seguir, enquanto do ainda líder tudo se conjuga para o virmos a associar à pose lamurienta de quem, à falta de argumentos, terá acabado o seu triste mandato a invocar “traições”, que só podem servir-lhe de paliativo para a efetiva demonstração da sua atávica incompetência.
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