Na primavera de 1954, Picasso conheceu a jovem Sylvette David em Vallauris, na Côte d’Azur. Então com 19 anos, a jovem namorava outro artista ali instalado (Tobias Jellinek), que ajudava o colega mais velho e prestigiado a metalizar as suas esculturas. Desde então Sylvette ficaria imortalizada pelo rabo de cavalo louro e pela franja desordenada com que aparece lustrada em muitas obras então assinadas pelo artista.
Durante vários meses ela servir-lhe-ia de musa inspiradora em sessões de que resultaram mais de 50 retratos de tamanhos e estilos variados.
Picasso, então com 73 anos, terá apelado a todo o seu talento para criar quadros, esculturas metalizadas, cerâmicas e desenhos, ora em representações realistas, ora na forma de abstrações cubistas.
Nesse ano a série Sylvette tornou-se num êxito divulgado pelas revistas ilustradas de todos os continentes, que sublinharam a importância do encontro criativo do mestre da arte moderna com a bela modelo de Vallauris.
Alta e de cabelos loiros, ela encarnava não só o modelo da beleza feminina da época como ter-lhe-á servido de inspiradora. Há quem conte que até Brigitte Bardot terá alterado a sua aparência no sentido de melhor se parecer com a colaboradora de Picasso, nomeadamente quanto ao tom aloirado dos seus cabelos.
Em 1955 o Kunsthalle Bremen comprou uma das obras integradas nesse ciclo e, agora, sessenta anos depois, dedica-lhe uma exposição para a qual convocou outras obras emprestadas por grandes museus e coleções particulares de todo o mundo.
Apresenta-se a série Sylvette no contexto histórico da década de 50 e apresenta-se a obra de Picasso de então como a expressão tangível do seu estado de infelicidade já que Francoise Gilot, já o abandonara levando consigo os filhos de ambos, e Jacqueline Roque ainda não se perfilara como a companheira que o acompanharia até ao fim da sua vida.
Passados sessenta anos desde então, Sylvette deixa-se entrevistar pelas câmaras de Grit Lederer e lembra a pobreza em que então vivia, pelo que o encontro com Picasso significaria o grande salto para conferir maior ambição ao seu futuro, ou não se tenha, ela própria convertido numa artista inglesa razoavelmente bem sucedida.
O documentário apresenta igualmente os amigos de Picasso como o fotógrafo André Villers, que evoca o encantamento suscitado por Sylvette quando percorria a rua principal para chegar à loja de abat-jours da mãe. Ou ouve igualmente uma neta de Picasso, Diana Widmeier, reputada historiadora de arte, que confere uma nota mais pessoal na abordagem da vida e obra do avô.
Dado que este período Sylvette é dos menos conhecidos no percurso do artista, o documentário acaba por ser muito interessante.
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