Na edição do «Público» de 21 de julho de 2014, Ricardo Bexiga assina um artigo de opinião intitulado «Regresso ao Passado», que é bastante revelador sobre o pensamento político dos apoiantes de António José Seguro, quer quanto à desonestidade intelectual em que são useiros e vezeiros, quer quanto à indigência de argumentos, que facilmente fazem ricochete contra quem os dispara.
Que diz então o frustrado candidato à câmara da Maia nas últimas autárquicas?
(cabe aqui um parêntesis para nos interrogarmos sobre a propensão do ainda secretário-geral para reunir na sua corte de indefetíveis uma assinalável horda de crónicos derrotados?):
António Costa representaria um regresso ao passado,, diz Bexiga, que converge com a narrativa da Direita segundo a qual José Sócrates terá sido o único responsável pela crise em que atualmente os portugueses sobrevivem!
Dando razão ao ditado segundo o qual o hábito faz o monge, o paladino do ainda secretário-geral demonstra o quanto o pensamento de direita já está bem interiorizado em si, porque mostra a vergonha que sente pela riquíssima herança deixada pelos governos de José Sócrates: uma geração de jovens muito qualificados (investimento desperdiçado por passos coelho), as apostas sérias na desburocratização administrativa (o Simplex), nas energias renováveis, na investigação científica, no combate à pobreza dos mais velhos, na sustentabilidade da Segurança Social, etc.
No seu entusiasmo pela adesão aos argumentos da direita Bexiga até consegue esquecer a crise internacional, que deitou a perder aquela herança, os condicionalismos que vinham de trás com a entrada da China nos mercados internacionais, com o alargamento da União Europeia ou com a deficiente implementação do euro - tudo razões, que conduziram ao memorando e de modo algum atribuíveis ao anterior primeiro-ministro.
Mas é sabido que não era só a Direita, nem os comunistas, nem os bloquistas a odiarem José Sócrates e a criarem uma campanha de calúnias como jamais se vira para com um político em funções em Portugal. Também dentro do Partido Socialista ia fermentando o ódio dos medíocres que, incapazes de mostrarem outro valor que não o do seu arrivismo, andaram anos a preparar a usurpação do Partido por um núcleo, que se vê agora cada vez mais sitiado no seu fragilizado território da largo do Rato.
Mais adiante Bexiga diz não compreender o que faz avançar António Costa, atribuindo-lhe apenas razões de “ambição de político profissional”.
Não deixa de ser revelador o pensamento de Bexiga sobre o “político profissional”, cujo valor deveria ser o primeiro a enaltecer porquanto servir o País só pode e deve enobrecer quem o faz com o sentido de missão.
Mas, mesmo aceitando essa espécie de anátema, o que terá levado Seguro a querer liderar o Partido apesar de não ter no seu currículo mais nada do que funções suscitadas por ser seu militante? Não terá sido também ambição? Ora, o que é nele mais aceitável em termos de ambição do que em António Costa?
Só que António Costa sempre desempenhou funções de elevada responsabilidade com grande mérito e reconhecimento - por isso mesmo os lisboetas lhe atribuíram a maioria absoluta, que negaram á maioria dos candidatos socialistas alinhados atualmente com Seguro- ao contrário do ainda secretário-geral que sempre se caracterizou por uma cinzentude sem qualquer chama em tudo quanto pôs a sua assinatura oficial.
Mas Bexiga não quer ver que a disponibilidade de António Costa não tem a ver com essa tal ambição, mas com o sentido de cidadania, que o norteou ao analisar lucidamente os resultados das europeias,
Para os muitos milhares de socialistas, que vêm enchendo auditórios por todo o país em apoio a António Costa, causa justa indignação que Seguro e os seus apoiantes não queiram reconhecer a mensagem transmitida pelos portugueses a 25 de maio: as oitenta medidas não mobilizaram o eleitorado para o projeto de recuperação da economia que o país necessita. E só um apego irresponsável ao que é apenas um arremedo de poder interno justifica que Seguro e os seus apoiantes teimem em fazer tanto mal ao Partido e aos portugueses em geral teimando em não reconhecer que não têm as capacidades e as competências exigíveis para merecerem a confiança dos eleitores nas próximas legislativas.
Quando fala de uma das grandes qualidades de António José Seguro, Bexiga lembra-me um grande senhor deste país que a propósito da que ele especifica costumava dizer que «a humildade é o apanágio dos medíocres».
Ora é essa manifesta falta de qualidades de quantos rodeiam António José Seguro, que mais impressiona nesta altura: olha-se para quem apoia António Costa e vêem-se os fundadores do Partido, os seus mais reconhecidos intelectuais e economistas e os mais reconhecidos dos seus autarcas. Olha-se para a corte do ainda líder e é um susto que logo justifica as maiores apreensões se fossem eles a continuar a conduzir o Partido mais determinante no passado recente e no futuro próximo dos portugueses.
Sem outros argumentos os Bexigas referem a votação norte-coreana de Seguro no último Congresso - como se o mundo não tivesse continuado a girar e não houvesse confirmado as suas limitações políticas e intelectuais para vir a ser primeiro-ministro - e a uma manobra desonesta, que não colhe qualquer suporte nos estatutos a que tanto gostam de se agarrar.
Os apoios crescentes e entusiásticos dos militantes de todo o país a António Costa assustam deveras estes candidatos ao seu reencontro com a insignificância mediática donde nunca deveriam ter emergido. E por isso mesmo andam a esforçar-se por inundar os jornais de libelos, que só podem convencê-los a si próprios.
Para já existe uma óbvia conclusão a retirar do comportamento de António José Seguro: além de medíocre, mostra ser um medroso que foge a medir-se com António Costa nas condições em que foi eleito.
Lamentavelmente ele tende cada vez mais a garantir um lugar muito obscuro na História do PS: a do ícaro que ambicionou chegar mais alto do que o seu saber e engenho justificavam e que, por isso, acabará por se estatelar com as asas chamuscadas.
Manifestamente a política não pode ser entregue a gente dessa estirpe. Para que não soframos com mais réplicas dos que temos suportado nestes últimos três anos.
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