No seu artigo de hoje no «i», Pedro Nuno Santos classifica a aceitação da narrativa da direita a propósito das razões para a crise, como o erro mais grave da estratégia da direção socialista nestes três anos.
Bondosamente ele deixa implícito que Seguro e os seus mais diretos colaboradores terão pensado que metendo a cabeça debaixo da areia, e não ripostando contra a tese do despesismo dos governos de José Sócrates, deixariam que esse ónus não caísse sobre si e os portugueses passassem a considera-los uma espécie de vestais virginais sem qualquer comprometimento com esse passado.
Não sei se o deputado aveirense acredita mesmo nisso ou se o assume com a prudência de quem, estando a defender António Costa, não considera ético fustigar devidamente o campo oposto. Mas, como militante de base, sem ter de envergar punhos de renda, sinto-me identificado com muitos outros camaradas, que já concluíram o óbvio: essa estratégia de Seguro teve a ver com o que ele tem demonstrado ao longo destes três anos e que mais não é do que uma identificação plena com essa deturpada “visão” da direita. Porque, lá diz o ditado,que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele!
Alguém se lembra de Seguro ter invocado as causas da crise internacional como as que forçaram o governo de José Sócrates a afastar-se da aposta determinada no rigor orçamental, na requalificação dos recursos humanos portugueses (jovens e adultos) ou nas energias renováveis?
Quem leu «O Menino de Ouro do PS» da jornalista Eduarda Maio tem presente o que ali se descreve como os sentimentos despeitados que António José Seguro alimentou pelos sucessivos êxitos de José Sócrates. Um pouco como essa indisfarçável inveja manifestada por Lobo Antunes a respeito do bem mais grandioso Saramago!
Terá, pois, havido um distanciamento intencional da direção de Seguro em defender um património, que era de todos os socialistas e que ele deveria ter assumido como de inaceitável deturpação pela direita. Não o fazendo, não só permitiu que passos coelho, portas e a tropa fandanga parlamentar dos dois partidos tirasse partido dessa omissão como jamais conseguiu levar por diante o desejo de ser visto como uma espécie de «começar de novo».
Paga, pois, o preço dessa reserva pessoal de muitos anos reduzido à sombra de um líder carismático e a incompetência em criar em torno de si uma empatia como a que aquele conseguira...
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