Deste canto ocidental da Europa é difícil perceber como, depois de tantas mostras de autoritarismo e de corrupção, uma boa parte dos turcos ainda está disposta a votar em Recep Erdogan nas eleições presidenciais de outubro.
Um observador imparcial diria que bastavam as suas inacreditáveis afirmações a propósito da catástrofe mineira mais mortífera na história do país, e a cólera por elas suscitada, para que Erdogan merecesse ser desqualificado por negligência, laxismo e falta de escrúpulos. Tanto mais que, por muito que o queira negar, foi o seu governo quem privatizou a mina em causa e possibilitou uma degradação acelerada das condições de segurança no trabalho ali verificadas.
Perante a reação popular ele prometeu, entretanto, não vir a ter qualquer clemência relativamente aos culpados já que o relatório preliminar sobre o acidente mostra uma percentagem de monóxido de carbono muito acima das normas de segurança e justificativo da suspensão imediata da atividade nas galerias.
Em Soma a população oscila entre a cólera e o desgosto, enquanto o governo tenta mostrar-se diligente no anúncio de um plano de ação para reforçar a segurança nas minas. Mas os mais avisados atribuem esse afã com propósitos exclusivamente eleitoralistas, já que Erdogan terá sentido que, tão à beira de incrementar o domínio ditatorial do seu poder, tudo pode ficar em causa, fechando-se-lhe na cara a porta antidemocrática que ele sempre quis escancarar!
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