segunda-feira, 2 de junho de 2014

FILME: «O Congresso» de Ari Folman (2013)

Para que não fiquem dúvidas, gostei bastante mais de A Valsa com Bashir do que deste O Congresso. Ainda que seja forçoso reconhecer a este último uma imaginação, que o outro não tinha, mas também não precisava, porquanto cuidava da má consciência de uma geração de israelitas envolvidos na repressão aos palestinianos.
É diferente o propósito ideológico de O Congresso muito embora menos explicito: vivemos numa sociedade cada vez mais virtual onde nos arriscamos a ver alienada a nossa identidade e os afetos que lhe correspondem.
Quem disso se consciencializa é a atriz Robin Wright que, obrigada a vender a sua imagem para vir a ser utilizada no novo tipo de filmes a realizar doravante porque, chegada aos 44 anos, tem cada vez maiores dificuldades para encontrar papéis adequados quer à sua maturidade, quer sobretudo à limitada disponibilidade permitida pela imprescindível assistência a um filho acometido de rara doença, que o tende a cegar e ensurdecer progressivamente.
Trata-se, pois, de um mal, que tem igualmente a ver connosco, já que, alienados pela catadupa avassaladora de mensagens visuais e sonoras com que somos continuamente bombardeados, temos dia-a-dia menores capacidades para vermos e ouvirmos o essencial.
A estética do filme, quando deixa os atores em carne e osso para se circunscrever ao universo do desenho animado, é a do mítico Yellow Submarine. E, como será normal num filme sobre universos concentracionários, a libertação opera-se pela destruição total de uma organização, que parecia assente em bases profundamente sólidas.
E esta é outra das metáforas finais: seja a respeito do capitalismo na sua versão neoliberal, seja dos governos que nele colhem a sua estratégia ideológica, a aparente consistência do seu poder é uma mera aparência. Por isso vale a pena resistir-lhe: porque Liberdade ainda continua a ser o valor maximalista de que jamais poderemos abdicar...



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