Confesso que costumo ter uma antipatia quase atávica por gente que saiu de Cuba para a denegrir a partir dos seus exílios dourados numa Europa comandada por quem anseia ver terminada aquela história em tempos utópica (o caso da escrevinhadora Zoe Valdés), ou quem lá continua muito provavelmente financiada pela tenebrosa organização sedeada em Fort Langley ( a “bloguista” Yoani Sanchez).
Mas é forçoso reconhecer que a mentira tantas vezes repetida acaba por ter um fundo de verdade e que, apagadas as últimas marcas das esperanças socialistas na distribuição igualitária das riquezas, o outro lado da vitrina acaba por se revelar tragicamente diferente. Agora a tímida abertura ensaiada pelo regime pôs a população a sonhar descomplexadamente com o peso cubano convertível indexado ao dólar.
Após a vaga de despedimentos na função pública, os empregos tornaram-se raros e mal remunerados. As reformas só beneficiam uma minoria muito restrita, que acede a padrões de vida ocidentais, enquanto a maioria não ganha o suficiente para comprar os produtos básicos de alimentação e de bem estar.
Segundo as autoridades não existe violência nem bandos de delinquentes e os meios de comunicação gabam os méritos de uma juventude cubana empenhada na construção do socialismo. Mas, quem consegue aprofundar o que se passa em Havana, e sobretudo nos seus bairros mais pobres, acaba por descobrir inúmeros adolescentes e jovens que troçam dos ideais dos avós e desprezam a política.
Nesses bairros miúdos entre os 14 e os 18 anos organizam-se e conquistam territórios onde espalham a violência através de roubos, agressões e até homicídios. Ainda não se chega à dimensão da Venezuela, mas tende-se para essa dimensão de delinquência.
Quem já assassinou é admirado pelos amigos, que invejam a sua liberdade e o dinheiro farto nos bolsos. E por isso mesmo o fenómeno só tende a aumentar.
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