terça-feira, 24 de junho de 2014

A diferença que vai de Maria Callas a Natália Carvalho

Não sendo verdadeira a tese defendida por alguns segundo a qual não existem diferenças ideológicas de tomo entre António Costa e António José Seguro - se a elas atendermos vai um enorme abismo entre a consistência do primeiro e a inconsequência contraditória do segundo - até a poderíamos aceitar que, ainda assim, logo outra pedra-de-toque as trataria de separar.
É isso mesmo que faz José Manuel dos Santos, antigo assessor dos presidentes Mário Soares e Jorge Sampaio, que aceitando de barato essa tese, comenta no «Público» com uma mordacidade inteligente: “Há programas comuns, mas a mesma partitura cantada pela Maria Callas ou por Natália Carvalho é diferente, depende do talento de quem canta.”
De facto, para quem aprecia ópera, quem aceitaria que, por exemplo, Dulce Pontes fosse cantar o «Dueto da Flor» da «Lakhmé» com a Elina Garanca ou com a Anna Netrebko?
Bem podiam a mezzo soprano letã ou a soprano russa apurarem ao máximo as suas notáveis capacidades vocais, que a eventual parceira lusa, conhecida pelos seus garganteios exagerados, conseguiria dar cabo da habitual magia dessa ária, quando interpretada por cantoras líricas competentes.
Por isso faz todo o sentido a frase publicadapor Lurdes Feio na sua página do Facebook ao considerar que “a principal culpa de alguns incompetentes não é o facto de falharem sistematicamente os objetivos traçados, mas sim continuarem convencidos de que são muito competentes.“
Que melhor frase se ajusta ao ainda secretário-geral do PS?
Provavelmente a cantora lusa estaria disposta a acreditar.se capaz de enfrentar aquele hipotético desafio, mas qualquer amigo mais lúcido depressa a dissuadiria da futilidade da sua ambição.
É um amigo dessa estirpe que anda a fazer falta a António José Seguro. A exemplo da Natália Carvalho ou da Dulce Pontes torna-se quase universal a constatação em como ele não possui as qualidades e o conhecimento necessário para vir a ser primeiro-ministro de Portugal.
Até pode parecer que veste, posa e fala como um secretário-geral, mas soa a falso, a algo de postiço a que não se atribui qualquer importância. Por isso mesmo converte-se no alvo preferencial dos dichotes de quem ganha a vida a comentar ou a satirizar a atualidade política.
Ter chegado a secretário-geral do maior partido português já representou um erro de casting, que os portugueses têm pago demasiado caro, porquanto, com outro líder mais credível, o consulado de passos coelho nunca aqui deveria ter chegado. Poupar-se-iam, por certo, uns quantos cortes, que têm sido vividos com tanto sofrimento por quem os viu a si aplicados.
A “vitória” deste domingo na Comissão Nacional foi mais um exemplo dos tiros de ricochete com que ele acabará fatalmente perfurado no final deste processo. Porque, como constata  um jornalista do «Público» “a imagem que passa é a de um líder sem capacidade política de defender o seu mandato e que se escuda em formalismos jurídicos.”
Mas a derrota maior será a progressiva afirmação de António Costa como incontornável líder do Partido Socialista às próximas legislativas. Porque até o irregular Miguel Sousa Tavares comentou no «Expresso»:  “só o simples facto de termos ouvido alguém a pensar política para lá do espesso nevoeiro destes longos dias que já levam três anos acumulados foi um sopro de brisa fresca nesta escuridão sem horizontes em que temos vivido.
E quanto a estes estatutos blindados por Seguro para perenizar o seu futuro à frente do PS é o próprio  António Costa quem garante que “certamente, mais tarde ou mais cedo, os militantes vão poder voltar a exercer a sua voz e vão querer fazer as escolhas e as opções políticas que democraticamente devem fazer, porque é assim que acontece num partido democrático”.
De facto, estas regras internas são tudo menos democráticas, porquanto tentam travar que a vontade dos militantes se sobreponha às dos que se julgam donos do Partido!


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