Uma conclusão lapaliciana leva-nos facilmente a concluir que o «Correio da Manhã» não se confunde com o «Expresso», nem os leitores de um correspondem propriamente aos do outro. Enquanto o matutino da Cofina se tem descredibilizado ao longo dos anos com a sua obsessão patológica por José Sócrates, alvo de estimação das suas difamações, insultos e mentiras, o semanário da Impressa constitui um órgão de importância fundamental na nossa democracia apesar de ser detido por um dos fundadores do PPD.
É esta credibilidade, que o tornam particularmente influente na criação da opinião informada nos estratos sociais mais abonados e cultos, aqueles que tendem a arrastar a restante sociedade para os seus valores e opções. Por isso mesmo questiono-me, ao ler as colunas de gente tão insuspeita, quanto respeitada como o são Miguel Sousa Tavares, Fernando Madrinha, Pedro Adão e Silva ou Daniel Oliveira, como serão entendidos por António José Seguro e os seus apoiantes. Particularmente no mesmo dia em que a maioria dos fundadores do Partido subscreve uma inequívoca manifestação de apoio a António Costa!
Não estarei muito longe da verdade ao prever que os mais fanáticos seguidores do ainda secretário-geral se queiram iludir, realçando a coincidência de Ricardo Costa continuar a dirigir o jornal depois de ter colocado o seu lugar à disposição dos seus patrões!
Mas gente com um palmo de testa ainda poderá acreditar que bastará esse mesmo diretor assobiar e logo jornalistas ou intelectuais com o perfil dos referidos quatro se ponham logo a tecer loas ao irmão e a inventar aleivosias a respeito do seu adversário?
Que os antóniosgalambas e os euricosbrilhantes assim creiam ainda vá que não vá. Mas gente com a responsabilidade e a experiência de Maria Belém Roseira, Carlos Zorrinho e Alberto Martins alinharem pelo mesmo diapasão já faz repensar sobre a avaliação que deles fizéramos anteriormente.
Mas que dizem esses quatro colunistas e que imagem ajudam a consolidar na opinião pública sobre a atual crise no PS? Cinjamo-nos por ora a dois deles, deixando os textos de Pedro Adão e Silva e de Daniel Oliveira para outro artigo posterior.
Fernando Madrinha escreve: “o mais penoso, porém, é mesmo o discurso de um secretário-geral que, tendo explicado que se ‘anulou’ durante três anos para manter a unidade do PS, não cessa de surpreender com as opiniões que até agora escondeu.
Foi preciso ser desafiado por Costa para se lembrar de revelar o que pensa dos governos de Sócrates, percebendo-se, enfim, que pensa mais ou menos o mesmo que Passos e Portas. Ou pior ainda, pois diz agora que nem teria assinado o memorando da troika, o qual foi subscrito, não só por Sócrates, mas também pelos partidos da maioria hoje no poder.
O país teria certamente apreciado que o líder do PS dissesse o que tinha a dizer há três anos, separando as águas e assumindo um discurso coerente. Com esta tendência para se anular durante tão longos períodos, omitindo hoje e lembrando amanhã apenas o que lhe convém, presta um mau serviço. E dá triste notícia da ética e dos valores que tanto apregoa.”
Segundo o jornalista, António José Seguro pode assim ser caracterizado como:
· dissimulado e incoerente, porque reconhece ter escondido as suas verdadeiras convicções durante três anos;
· não socialista, pois tem as mesmas opiniões que passos coelho e paulo portas;
· sem a ética e os valores, que usa e abusa no discurso, mas não comprova na prática;
Miguel Sousa Tavares escolhe, por seu lado, a riqueza das metáforas para traçar outro retrato pouco lisonjeiro do António libertado da gaiola:
“No Largo do Rato, as hostes do triste Seguro multiplicam os golpes baixos, as jogadas rastejantes e todas as batotas possíveis para que o seu irradiante líder possa continuar a sonhar (vá lá saber-se porquê) que o seu destino é governar-nos. O homem prefere afundar o navio do que ceder o comando em luta frontal. Queimará as bandeiras, destruirá os mastros e o leme, passará pela espada os traidores e, quando tudo estiver perdido, anos e anos de navegação cautelosa e furtiva assim tornados inúteis, sabotará o navio com todos a bordo. Deve ser aquilo a que ele chama ser líder da oposição. E se, porventura, sair vitorioso da refrega, subirá à ponte de comando da nau destroçada e à deriva, contemplar-se-á ao espelho e perguntará orgulhoso: «Diz-me, espelho meu, há alguém mais capaz do que eu?»
Segundo o autor do «Equador», António José Seguro;
· tem apoiantes batoteiros peritos em golpes baixos e jogadas rastejantes;
· é megalómano, porque, além dele e dos seus apoiantes, ninguém consegue perceber a sua presunção quanto às capacidades para vir a ser primeiro-ministro;
· é inimigo do Partido Socialista, porque não se importa de o destruir se esse for o custo a pagar pela sua teimosia;
Em dois textos muito elucidativos temos, pois, a caracterização do retrato de Seguro em seis tópicos sintéticos que coincidem com a forma como a maioria dos militantes e simpatizantes socialistas veem hoje o líder, que lhes coube na desdita neste período crucial da vida dos seus concidadãos.
Quanto tempo ainda faltará para que os que ainda dão a Seguro a ilusão da sua “grandeza” se convençam em como esta imagem consolidada não se descolará do íntimo dos eleitores por muitas trafulhices, que estejam dispostos a utilizar nas suas oportunistas primárias? E que querer bem ao Partido e ao país só pode significar um inequívoco apoio à nova liderança para que António Costa se disponibilizou!
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