Num texto de ontem («Meia dúzia de características que definem o mau líder!») prometi voltar à caracterização que alguns influentes “opinion makers” vão publicando a respeito da luta pela liderança no Partido Socialista, utilizando para tal a edição em papel do semanário «Expresso».
O recurso a esta metodologia tem a vantagem de entender como tais posições vão refletindo o estado de alma da generalidade dos portugueses a respeito das opções propostas pelo Partido, e que lhes poderá oferecer a desejada alternativa.
Para já - e não é crível que a situação mude até à resolução definitiva deste confronto! - a maioria está esmagadoramente com António Costa.
Pretende-se medir pelo número de militantes e simpatizantes, que comparecem às ações de campanha de um ou de outro? Compare-se então as vastas e repletas salas onde António Costa discursa com as bem mais pequenas e incompletas por onde António José Seguro vai semeando as suas banalidades.
Quer-se avaliar o discurso de um ou de outro? Onde António Costa tem um discurso construtivo baseado numa agenda política para dez anos destinada a resolver os problemas estruturais por que passa a economia portuguesa, responde Seguro com a fácil maledicência e com o oportunismo mais rasteiro como as da patética comparência numa festa popular na zona de Viana do Castelo em que, acolitado pelo presidente da câmara dessa cidade, demonstrou que a célebre golpada ensaiada por carlos abreu amorim, quando se associou a uma excursão a Fátima de uns quantos gaienses.
Será expectável que, nas próximas semanas, Seguro continue a iludir a falta de apoio dos militantes e simpatizantes, comparecendo em festas para que não tenha sido propriamente convidado. Mas onde quererá abraçar e beijar quantos tiverem o azar de lhe passarem por perto!
Quer-se, enfim, comparar a qualidade dos apoios de um e de outro? Onde Costa conta com uma significativa percentagem dos fundadores do Partido (muitos deles a lamentarem a falta de ética e de aversão ao significado do que significa ser socialista, que viria a revelar um tão lamentável sucessor!), dos deputados, dos dirigentes federativos, concelhios e de centenas de secções do Partido, vê-se Seguro isolado e obrigado a recorrer á golpada das primárias, ideia que muitos dos seus defensores nunca pensariam poder vir a ser desvirtuada para a tentativa de «chapelada» ensaiada a partir do Rato.
Comecemos, então, pelo que assinou Pedro Adão e Silva a respeito do que designou como «A Política Calvinbol»: a exemplo da maioria dos que observam de fora o que se passa no Partido ele vê “uma direção que se entrincheirou num bunker estatutário do qual ameaça não sair. Face a uma derrota política anunciada, alteram-se as regras do jogo, inovando - não vá alguém enfadar-se com o modo administrativo de fazer as coisas - e torna-se o presente imprevisível e o futuro incerto.”
É uma conclusão que não escapa à maioria dos portugueses: adivinhando a derrota em campo, Seguro apostou num truque de secretaria. Por isso mesmo a imagem, que se lhe cola é de alguém desesperadamente agarrado ao poder e disposto a todas as trapacices para o conservar. Entre Seguro e o indecoroso presidente da Liga de Futebol vai uma semelhança, que é bem elucidativa sobre o tipo de caracteres (ou de falta deles), que têm conseguido ascender a lugares de topo das suas organizações. Um e outro condizem com o país de passos coelho, que a maioria dos cidadãos quer ver sacudido por uma varredela, para se tornar novamente respeitável.
Terá Seguro a ilusão de que ainda chegará a primeiro-ministro, mesmo que as suas manigâncias conseguissem chegar a bom termo para as suas aspirações?
É claro que teria sempre a desculpa que já está em todos os seus discursos (“a culpa é do António Costa!”), mas mesmo ele, na sua cegueira narcísica teria de reconhecer no desprezo dos eleitores pela sua candidatura, que nunca houvera sido senão uma réplica do célebre sapo da fábula de La Fontaine, que quis inchar para atingir a dimensão de um bovino e estoirou antes de o conseguir!
Por muito que saia do Palácio da Praia e ande aos beijos e abraços aos que teimam em vê-lo como quem não é (um líder), Seguro não deixa de ser, segundo o texto de Pedro Adão e Silva, um homem entrincheirado no seu bunker.
Já a abordagem de Daniel Oliveira segue outra lógica: a da impossibilidade de Seguro prometer outro tipo de política, que não seja a já implementada por passos coelho, tendo em conta a similitude com que ambos diagnosticam a origem da crise, que conduziu ao memorando com a troika: “o erro de Seguro não foi o seu afastamento em relação ao legado socratista. O erro foi ele atribuir a esse legado as causas da nossa crise económica.(…) Porque a crise vem de outro lado, tem outras e explica-se de outra forma.
Se Seguro acha que esta crise resulta de Sócrates, tem três consequências lógicas: que a crise é essencialmente nacional, e não europeia; que ela nasceu do endividamento público e não da desregulação do sistema financeiro e, por cá, da enorme dívida externa privada; e que ela resultou de um excessivo peso do Estado. Se Seguro acha isto tudo, não terá, em coerência, outro remédio senão apresentar as mesmas propostas da direita para sair desta crise: uma recuperação centrada na redução da despesa pública, que nunca poderá poupar o Estado Social, e uma aceitação do statu quo europeu.”
Conclusão evidente: a vitória pequenina nas europeias e a mais que ambígua nas autárquicas mais não foi do que a sensação para os eleitores, em como Seguro nada de substancial fará em relação ao que passos coelho tem feito. Nunca será senão mais do mesmo! E, por essa mesma razão, Seguro nunca conseguirá chegar a primeiro-ministro!
Por isso mesmo os socialistas têm, nesta altura, um desafio a vencer: erradicar esta direção, que os conduziria inevitavelmente à derrota e à pasokização do Partido, para que os portugueses possam, enfim, aceder à alternativa por que têm almejado desde que começaram a sentir o ferrete das políticas austeritárias!
Sem comentários:
Enviar um comentário